FERNANDO FABBRINI

Da cor da esperança

Salve, lindo pendão

Por Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2021 | 03:00
 
 

Esteja visitando um país qualquer – China, Senegal, Eslováquia - é sempre uma ligeira emoção para o turista brasileiro virar uma esquina e vê-la desfraldada num prédio de embaixada ou consulado. Lá fora a bandeira tem o poder de fazer-nos sentir um pouco mais confortáveis e seguros, mesmo que as saudades de casa e do Brasil ainda não tenham superado as atrações da viagem.

Na Itália, nossa verde-amarela flutua em uma das praças mais bonitas de Roma, a Navona. Ela enfeita a fachada do imponente Palácio Pamphilli de 1650, hoje propriedade do governo brasileiro e sede da representação diplomática. Curiosidade: dizem que Itamar Franco, nomeado embaixador pelo ex-presidente-ex-presidiário, detestava o cargo, o lugar, e vivia inventando desculpas para fugir rumo às terras mineiras. Meus amigos gozadores de Juiz de Fora não perdoavam: segundo eles, Itamar era a única pessoa capaz de trocar a Piazza Navona pela rua Halfeld. Que maldade! Gosto não se discute.  

Desde o grupo escolar sou intrigado com a nossa bandeira. Salvo engano, é a única nacional com um losango e uma frase. De acordo com a heráldica, a losango remete à feminilidade e a cor amarela às riquezas, o ouro. Um estudioso do assunto (existem!) interpreta esta combinação como “uma mãe rica que cuida de seus filhos”. Tomara que a simbologia se cumpra de uma vez. Em tempos recentes acontecia exatamente o contrário: filhos gulosos e corruptos sugavam as tetas, os bolsos e os cofres da pobre mãe trabalhadora, deixando seus irmãos na beiça.  

Uma amiga afinada com o esotérico disse-me que o losango, na verdade, são dois triângulos espelhados. O apontado para cima representa a busca do Homem pela evolução, pela luz. O triângulo virado para baixo seria a energia cósmica dirigida à Terra, dando uma forcinha pra nós. Gostei desta: o Brasil está precisando de muita luz, bom-astral, animação para sair desse momento difícil.

No feriado da Inconfidência tive uma amostra inesperada do que pode ser uma nova “vibe”. Caminhando de manhã perto da praça do Tiradentes, ouvi um buzinaço e fui conferir. Não sei dizer se havia ali centenas ou milhares de pessoas, mas tinha gente pra caramba. Todo mundo carregava, se não a bandeira, alguma coisa verde-e-amarela: camiseta, fita, boné. Desde uma Copa vitoriosa - que saudades! - não via uma alegria coletiva assim.

Atenção para não confundir: o patriotismo alto astral é bem diferente de outros fenômenos da história. Teve de tudo, sobretudo nações sendo levados ao delírio fanático por tiranos de esquerda e de direita cujos finais nunca foram felizes. Aqui, falo de outra coisa: do sagrado carinho pela própria terra, do orgulho de fazer parte da construção de algo maior para benefício de todos; de fraternidade e solidariedade – e não de passar raiva a vida inteira pagando impostos para sustentar bandidos e suas quadrilhas, achando o Brasil uma porcaria.

O sentimento patriótico genuíno foi fundamental para mexer com os brios dos cidadãos e tirar do atoleiro muitos países em guerras, crises, depressões. No entanto, fale hoje de “patriotismo” e um babaca qualquer de cabeça feita vai lhe acusar de “fascismo”.  

Voltei da caminhada do feriado com um sentimento diferente. Apesar da pandemia, das lojas e escolas fechadas pelos “trainees” de ditadores, apesar da justiça deprimente reinante, apesar dos criminosos perdoados pelas altas cortes, apesar de Renan Calheiros e assemelhados, apesar dos pesares, saiu às ruas um novo cidadão brasileiro. Ele trazia na alma, pelo menos, o verde da bandeira e da esperança. Já é alguma coisa.