Fernando Fabbrini

Escreve todas as quintas-feiras no Portal O Tempo

Oscar careta

Publicado em: Qui, 20/05/21 - 03h00

Em 1988, extremamente preocupados com os rumos da civilização, os figurões da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiram mudar a realidade adversa, solucionar as injustiças sociais, eliminar preconceitos, resolver guerras, conflitos e mazelas – tudo com uma só frase. Assim: no lugar de “...and the winner is...” os apresentadores da premiação passariam a dizer “...and the Oscar goes to...”. Que lindo! O universo ficou muito melhor a partir desse dia.

Passarinhos gorjearam felizes; chuvas de flores caíram das nuvens, fronteiras e muros derrubados; Greta Thunberg, montada em uma girafa amazônica, conduziu a marcha dos povos sofridos cantando “Imagine” e de camiseta branca com a pomba da paz.

Como acontece no show business, tratava-se apenas de uma esperteza para fazer média com as minorias e a opinião pública. Nas artes, nos negócios, nos esportes, nas relações pessoais, não só a cultura norte-americana como as demais permanecem, claramente e em total hipocrisia, valorizando o “winner” e esnobando o “loser”. A Academia joga para a plateia, em função da moda e da conjuntura.

Agora, inventaram mais tolices no melhor estilo ditatorial. Diretrizes da Academia obrigam inclusão e diversidade que os cineastas deverão cumprir na marra para que seu trabalho seja elegível ao Oscar a partir de 2024. Desde a direção, argumentos, elencos e equipes técnicas, tudo deverá ser composto por percentuais de representantes de etnias, minorias, nacionalidades – uma salada de frutas que beira o surreal.

Exemplo: dentre os atores participantes de uma produção, a Academia obriga que um percentual inclua asiáticos, hispânicos, negros, indígenas, oriundos do oriente médio, norte da África, Havaí ou outra ilha do Pacífico e nativos do Alasca (Alasca, juram? Então, teremos mais filmes com ursos, alces e salmões?) Pelo menos 30% de todos os atores em papéis principais e secundários devem ser mulheres, representantes dos grupos étnicos descritos acima, pessoas com opções afetivo-sexuais variadas e pessoas com deficiências cognitivas ou físicas.

Talvez seja por conta da ditadura do politicamente correto que a audiência do Oscar despencou feio. Outrora grande evento e faturamento das redes de TV, a amplamente esperada noite dos sucessos de Hollywood em 2021 caiu para 9,85 milhões de telespectadores nos Estados Unidos e registrou índices desanimadores no resto do mundo. A enorme queda representa 58,3% e refere-se a 23,6 milhões, o mínimo histórico do ano passado.

A nova cara do Oscar é também explicada pela ascendência da China no mercado cinematográfico. A revista The Economist informa que em 2005 a China investiu US$ 275 milhões na indústria do cinema. Em 2019, chegou a US$ 10 bilhões. Ao mesmo tempo, o número de salas no país passou de 4 mil para 70 mil no mesmo período.

Hollywood cada vez mais se curva ao poder e aos gostos daquele regime moralista e totalitário, excluindo dos filmes temas de sexo, nudez, religião, ditaduras e outros assuntos delicados para os chineses. E aí vemos novamente a arte domada, submissa, vendida à política, às ideologias – e, sobretudo, ao poder econômico. De volta, a negação da liberdade criativa, da crítica inteligente, da expressão individual sem censuras – caminho trilhado pelo fascismo, o comunismo e simpatizantes explícitos ou disfarçados de ambos. Para piorar, também aumentam as chances dos artistas medíocres que serão contratados apenas para atendimento de tais regras.

Amantes da sétima arte, cinéfilos apaixonados, público em geral: preparem-se para a estupidez fazendo-se passar por genial. Porcarias entrarão em cena em grande estilo, sob aplausos e ganharão Oscar.  

 

                                                   

 

 

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