FERNANDO PIMENTEL

Como os Estados Unidos veem o Brasil

País combina, com sucesso, democracia e desenvolvimento

Por Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2013 | 03:00
 
 

Desde que assumi o cargo de ministro, em janeiro de 2011, digo em palestras e entrevistas que o Brasil tem feito grandes avanços institucionais respeitando e aprimorando as regras democráticas. São frequentes, por exemplo, paralisações de obras de infraestrutura em decorrência de protestos de setores da sociedade que se julgam prejudicados pela abertura de uma rodovia, a construção de uma usina de energia ou a desapropriação de uma grande área. Em todos os casos, tem cabido à Justiça a palavra final sobre esses conflitos.


A Lei de Acesso à Informação, em vigor há um ano, é outro bom exemplo de como o processo de aperfeiçoamento democrático nunca termina – e assim deve ser. Embora os brasileiros já tivessem acesso a grande volume de informações sobre o setor público, a LAI regulamentou e tornou obrigatória a divulgação de dados solicitados pelos cidadãos brasileiros aos governos federal, estaduais e municipais, sem a necessidade de justificar o pedido.

Avançar com respeito às regras criadas coletivamente, considerando opiniões divergentes e submetido a órgãos de fiscalização, torna a gestão de um país, de um Estado ou de uma cidade um desafio muito maior do que simplesmente identificar demandas, propor soluções e executá-las. Por isso mesmo, minha grata surpresa ao ouvir o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, dizer que o Brasil tem feito “mágica” ao combinar, com sucesso, democracia e desenvolvimento.

Biden foi enfático ao ser recebido pela presidente Dilma Rousseff, em Brasília, no mês passado: “A parte mais incrível da história do Brasil nos últimos 15 anos é que vocês demonstraram para o mundo – e boa parte do mundo está lutando contra esse problema – que não é necessária a falsa escolha entre desenvolvimento e democracia. Você vê no Egito, na Venezuela, no Bahrein, você vê ao redor do mundo esse debate e esse dilema acontecendo. É possível ter democracia e desenvolvimento, dos quais todos se beneficiam”. Ao arrematar seu pensamento, Biden atribuiu justamente a essa capacidade a influência crescente que o Brasil vem exercendo sobre outros países.

A avaliação do governo norte-americano coincide com a eleição do diplomata brasileiro Roberto Azevêdo para o cargo de diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), igualmente no mês passado. A vitória de Azevêdo deu-se sem o voto dos EUA, que apoiaram o mexicano Hermínio Blanco, mas o brasileiro sempre teve a simpatia norte-americana, componente fundamental numa disputa em que um veto é tão ou mais importante do que um voto.

É histórica a relação Brasil-EUA, as duas maiores democracias do Ocidente, mas poucas vezes ela foi tão afinada. Na sua recente visita ao Brasil, Biden nos deu uma pista de quão bem-visto o Brasil tem sido nos salões da Casa Branca. Que essa imagem ganhe ainda mais nitidez em outubro, quando a presidente Dilma Rousseff for recebida em Washington pelo presidente Barack Obama, durante visita de Estado, deferência dos anfitriões somente aos parceiros estratégicos.