FLÁVIA DENISE

A singela arte dos prazeres secretos

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 20 de março de 2017 | 03:00
 
 
Hélvio

Quando você está sozinho em casa, sem ninguém vigiando, o que você prefere fazer: ver um filme clássico ou assistir a uma série bem bobinha? Quando começa a chover forte e bate um vento frio, você se debruça sobre um clássico da literatura ou procura um romance água com açúcar ou uma aventura bem cheia de ação? Quando está na rua, ensaiando um retorno para casa, de madrugada, e bate aquela fome, você vai direto para casa fazer um lanche saudável ou para no cachorro-quente da esquina?

Se você escolheu a primeira opção das perguntas acima, talvez o texto não seja para você. Agora, se não só preferiu a segunda como teve toda a certeza de que ela seria para lá de prazerosa, você é um partidário do que os norte-americanos chamam de “guilty pleasures” ou prazeres culpados numa tradução literal e aos quais vou me referir como prazeres secretos (porque eu prefiro a parte de manter algo delicioso em segredo do que a ideia de me sentir culpada por gostar de alguma coisa).

A ideia por trás do conceito são aquelas coisas que amamos fazer, que mal esperamos para começar, mas nunca, nunca mesmo, queremos contar para ninguém. É o prazer do metaleiro que gosta de ouvir um pop melódico. Do acadêmico que leva suas pesquisas com rigor e escreve teorias da conspiração nas horas livres. Do designer que ama a fonte Comic Sans. Do crítico literário que não perde um lançamento de Paulo Coelho. Do dentista que ama comer balas. Em resumo, são aqueles momentos em que nos permitidos gostar do que gostamos sem autocrítica, sem negarmos quem realmente somos. É o momento em que nos libertamos das amarras da qualidade e da estética para nos permitir uma conexão profunda e deliciosa com algo superficial.

Meu preferido, dos últimos tempos, tem sido a série “Mercedes Thompson”, de Patricia Briggs. Não é nenhuma série que vai mudar o mundo, não merece nenhum prêmio, mas, mesmo assim, fico feliz sempre que um livro novo é lançado – e sempre haverá novidade, porque é dessas séries em que a mesma coisa acontece a cada título e que a fórmula pode ser repetida à exaustão.

Mas a experiência, ao contrário do que eu acabei confessando, tem que ser secreta. O prazer está exatamente em não precisar admitir seus gostos privados. O bom é curtir em silêncio, em segredo. É viver, ao menos um pouco, sem submeter a própria vida à análise e à aprovação de estranhos e conhecidos.

E, por favor, que seja sem culpa.