FLÁVIA DENISE

O resgate dos abandonados

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2018 | 03:00
 
 
Décio Guanabarino

O convite foi inesperado. “É um encontro mensal que tem como premissa beber vinho, falar de leituras, compartilhar a biblioteca e encher a mesa de livros”. E me conquistou imediatamente. Nunca tinha participado de um clube do livro ou algo que o valha. Tenho uma resistência enorme em ler por obrigação – mesmo se ela for inspirada por um grupo de amigos que vai ler ao mesmo tempo para poder comentar juntos depois. Para mim, livro é liberdade. É lido porque não é possível abandoná-lo, porque existe uma vontade enorme de dar início àquela sequência de páginas. Não porque alguém está vigiando.

Não existe perfil para quem gosta de livro. Pessoas de qualquer idade, raça, gênero e orientação sexual podem ser apaixonados pela leitura. Mas uma coisa todo mundo têm em comum: a pilha de livros para ler é enorme e crescente. Nem todo livro que é comprado por causa de uma enorme vontade de ler é imediatamente lido. E, com o passar dos meses e anos, o desejo de abrir as páginas do volume vai se tornando um vestígio. Até que a própria lembrança do que nos inspirou a levar aquela obra para casa se perde.

Só que junto ao convite tão sedutor veio a melhor parte: “O tema será livros encalhados na sua própria estante”, explicou Juliana, organizadora da Confraria do Livro, que ocorre mensalmente no Agosto Butiquim e está aberta a novos participantes. Ela ainda completou: “é um incentivo para ler os próprios livros!”. Simples assim, o encontro se fez necessário.

Foram horas de conversas, risadas, brindes e trocas literárias. Levei para casa dois livros de poesia com a garantia de que são imperdíveis: “O Chão Dispõe a Queda”, de Pedro Bomba, e “Pensamento Chão”, de Viviane Mosé. Também pude contar da minha história com “41 Inícios Falsos”, de Janet Malcolm. Conheci a obra da mesma forma que fiquei sabendo da Confraria, por meio da revista “Chama”, que tem uma newsletter com o roteiro literário de BH, incluindo clubes do livro. Agora o livro vai finalmente ser lido – apesar de não por mim. Muito espertamente já o emprestei para outra leitora da Confraria, adiando para outra mês a intimidade com os ensaios da autora tcheca sobre artistas e escritores.

Apesar disso, a conversa sobre os abandonados foi uma experiência tão feliz que queria propor o divertimento para quem não teve a oportunidade de participar desse encontro. Aproveite esses dias de lentidão das horas (que atingem mesmo quem não entra de férias neste mês) para garimpar sua pilha de obras abandonadas como se estivesse recebido autorização para ir à casa de um amigo e escolher um livro para levar para casa. 

O critério de seleção fica por sua conta. Pode ser um livro recém-comprado que está começando a coletar pó. Pode ser um livro abandonado há anos. Pode ser algo que você nunca teve a intenção de ler – só queria ter. Pode ser um livro que foi presente e você jamais tinha prestado muita atenção nele. Escolha um livro e, se quiser contar para mundo sua história com ele, poste a foto no Instagram com a #confrariadolivrobh. Não há prazer maior do que encontrar pérolas dentro de casa.