Flavia Denise

Flávia Denise escreve todas as segundas-feiras no caderno Magazine de O TEMPO

Oscar: 'Jackie'

Publicado em: Seg, 20/02/17 - 03h00

Em certo momento do filme “Jackie”, três vezes indicado ao Oscar, a personagem de Natalie Portman explica a um jornalista que há um abismo entre os fatos como eles realmente aconteceram e o que as pessoas acreditam ser a verdade. Assistir ao longa-metragem, que narra os eventos ocorridos dos dias entre a morte de John F. Kennedy e seu enterro, é ter a impressão de que não há diferença entre o que é visto na tela e o que ocorreu em 1963. É acreditar que ver o filme é o mesmo que testemunhar a intimidade da primeira dama dos Estados Unidos nesses dias em que perdeu seu marido, sua casa e sua posição no mundo após duas balas atingirem a cabeça de Kennedy.

Com roteiro de Noah Oppenheim e dirigido por Pablo Larraín, o filme acompanha Jackie de perto (literalmente, com a câmera bem próxima ao rosto da atriz) durante a chegada em Dallas, a morte de Kennedy, o retorno a Washington, o colapso mental de Jackie e sua decisão de fazer um evento do velório e do enterro do marido. Para ela, essa é a única forma de mantê-lo vivo na memória do país – afinal, ser presidente dos Estados Unidos não é garantia de ser eternamente lembrado.

Encarnando Jackie Kennedy como se tivesse nascido de novo na pele da primeira-dama, Natalie Portman entrega uma performance tão absolutamente perfeita que é difícil se lembrar que as imagens na tela são falsas, que tudo é um filme, e que não sabemos de verdade como foram os dias após a morte do presidente em 1963.

Independentemente de quem está concorrendo com Natalie pela estátua de melhor atriz, ela merece o prêmio pelo trabalho. Simplesmente pelo fato de que ela desaparece na tela, deixando somente Jackie Kennedy em seu lugar.

Considerando, então, que sua única concorrente real ao prêmio é Isabelle Huppert, que vive cenas de estupro e dominação psicológica em “Elle”, há poucas chances de Natalie não levar o prêmio para casa. Mas isso não é o mais importante. Independentemente dos reconhecimentos que receber, “Jackie” é uma obra-prima. É um filme obrigatório para quem ama cinema – e daqui a anos, assim como Kennedy, ainda será lembrado.

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