Flávio Saliba

As ilusões perdidas

Entraves para o desenvolvimento do Brasil

Por Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2021 | 03:00
 
 

Manuel Castells foi, talvez, o mais brilhante analista do processo de globalização e dos impactos das novas tecnologias de informação na sociedade contemporânea. Ele apontou com pelo menos quatro décadas de antecedência para o fenômeno da brutal concentração de renda em nível mundial e no nível de cada nação. Observou o processo de desindustrialização dos países desenvolvidos e alertou sobre a emergência do que ele chamou de Quarto Mundo. Este seria composto por nações pobres, dependentes da exportação de uma ou outra matéria-prima, cuja desvantajosa inserção na nova divisão internacional do trabalho os levaria à catástrofe social.

Tais nações tendem a se inserir no mercado mundial por meio de todo tipo de atividades ilegais como o tráfico de armas, drogas, pessoas e, mesmo, de órgãos para transplante. Trata-se de um prato cheio para a violência individual e coletiva e, pior, para a crescente infiltração do crime organizado no aparelho de Estado. Em muitos desses países campeiam as guerras e atos de terror promovidos pelo narcotráfico e por disputas étnico-religiosas.

Enquanto, para Castells, a massa de trabalhadores não qualificados está saindo de uma posição estrutural de exploração para uma posição estrutural de irrelevância, Wanderley Guilherme dos Santos argumenta em as “Razões da Desordem” que o Brasil jamais alcançará os padrões de desenvolvimento do Primeiro Mundo. Isso porque, mesmo apresentando taxas menos elevadas de crescimento do produto interno bruto as economias desenvolvidas continuam crescendo e as análises estatísticas indicam que o Brasil não tem como alcançá-las.

Nos últimos anos o Brasil vem se desindustrializando antes mesmo de se tornar uma economia plenamente industrial. Aqui vai uma longa citação de Santos: “Em um mundo, composto por Estados-nação, a divisão crucial entre países ricos e avançados, por um lado, e países pobres e atrasados, por outro, é institucional. Enquanto em países ricos as instituições públicas são (...) usadas para garantir justiça na competição política, social e econômica (...) nos países pobres, (...) as instituições públicas são fundamentalmente um circuito alternativo às transações de mercado para a acumulação de riqueza privada”.

Por sua vez, as guerras, a perseguição política, o desemprego e a fome em muitas nações pobres têm promovido intensos fluxos migratórios em direção aos países ricos. Acontece que as elevadas taxas de desemprego e a diminuição das oportunidades de ascensão social nestes países têm contribuído para acentuar a xenofobia e a emergência de movimentos e governos de extrema direita.

Por razões que não cabe discutir aqui, o Brasil também vive um período de extrema polarização política e de sérias ameaças às instituições democráticas como revelam as referências do chefe da nação ao “meu exército”.

Mas, por uma questão de coerência, é bom lembrar que, quando acuado, Lula também ameaçou convocar “seu exército”: o MST.