Flavio Saliba

Sociólogo e professor da UFMG, Flávio Saliba escreve quinzenalmente nas sextas-feiras em O TEMPO

Carta aberta ao presidente

Publicado em: Sex, 17/05/19 - 03h00

Hoje, quero me dirigir a Jair Messias Bolsonaro. Senhor presidente, o tempo urge, e o Brasil espera pelas reformas. Lá se vão décadas de crescimento econômico nulo ou insignificante, que manterão o país na rabeira das grandes economias. Não há mais como ingressar no Primeiro Mundo. Sabe-se que, para tanto, o país precisaria crescer a uma taxa superior a 5% ao ano durante pelo menos três décadas consecutivas. Tal como ensaiamos nos anos 70 e não persistimos, como o fizeram as nações asiáticas. 

Tenha certeza de que o povo se compadeceu do atentado à sua vida. Fique certo também de que sabemos que sua recuperação foi dolorosa e que lhe demos tempo para que tomasse fôlego e começasse a governar. Para todos, e não apenas para seus apoiadores de primeira hora. A maior parte dos votos que lhe foram depositados veio de gente que não estava entre esses últimos, mas dos indignados com os desmandos das administrações passadas. 

Que o senhor atenda às demandas de seus apoiadores é justo, mas um verdadeiro estadista governa para todos. O período de campanha passou e com ele seria bom que o ódio também passasse. O senhor parece não ter se apercebido de que a maior parte da população deposita esperança no seu governo, mas que posturas agressivas e impensadas estão solapando sua base de apoio.

Sei de gente próxima que o senhor é uma pessoa simples, afável e patriota, mas que, ao combater o viés ideológico de governos passados, move-se também por obscuras ideias regressivas. Os militares que assustaram os brasileiros por algum tempo, e que o senhor em boa hora recrutou como auxiliares, hoje se apresentam como figuras sensatas e democráticas. 

À exceção de algumas figuras que parecem pouco preparadas para ocupar cargos de alta relevância, seu ministério é formado por pessoas da maior competência e seriedade para exercer suas tarefas. Junte-se a eles, controle seus radicais, mostre que seu governo é, de fato, para todos e verá seus índices de aprovação alcançarem níveis animadores. 

A esquerda já mostrou a que veio, e o povo refuta a corrupção e o comunismo. Até segunda ordem, esse perigo está afastado. Digo segunda ordem porque seu governo tem que deslanchar as reformas, aproximar-se de posições de centro e centro-direita, e cumprir os acordos de preservação do meio ambiente. Lembre-se de Brumadinho. 

Como o senhor, também gosto dos Estados Unidos pela sua democracia, pela diligência e honestidade de seu povo e pela liberdade que desfrutam. Mas os vínculos com aquele país serão frouxos se fundados apenas na sua admiração por um chefe de Estado que nega tudo isso e vem sendo duramente combatido. Tais vínculos devem ser estabelecidos mais solidamente entre Estados que prezam o mercado, a democracia e a liberdade, e não entre governantes passageiros. Não me considero um bolsonarista, mas torço pelo senhor e pelo Brasil. Brasileiros continuam deixando em massa o país e, com eles, investimentos produtivos e capital social.

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