Flávio Saliba

Imenso lamaçal

Portugal é um exemplo para os brasileiros

Por Da Redação
Publicado em 07 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 

Para quem visita o Portugal de hoje, a bela “Fado Tropical”, de Chico Buarque, soa datada. Nossa terra nem de longe se tornou um imenso Portugal, país que começa a mergulhar de corpo e alma na modernidade. Lá vive uma gente feliz em belas, limpíssimas e seguras cidades, dispondo de rodovias de elevado padrão, metrôs, Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), comboios e embarcações, sem dispensar a tradição dos velhos “trolleys”. Tudo funciona a contento.

Porto foi recentemente considerada a melhor cidade europeia para se viver. A pequena e montanhosa ilha da Madeira surpreende não só pela beleza natural, como, também, por suas autoestradas com mais de 100 km de túneis e 135 pontes e viadutos modernos.

Nada comparável no Brasil, onde obras viárias servem menos ao progresso do país que ao enriquecimento de políticos e empreiteiros. Uma vergonha para nós, brasileiros, que tínhamos aquele pequeno pedaço de Europa na conta de um país atrasado.

Entre 2018 e 2019 o número de brasileiros vivendo em Portugal teve um aumento de 43%, somando um total de 150.854 pessoas, o equivalente a 1,5% da população daquele país. 

À exceção de alguns poucos milionários que lá vivem por questão de segurança ou por deleite, a maior parte dos imigrantes brasileiros foi em busca de melhores condições de vida.

Quando questionados sobre as razões que os levaram àquele país, são unânimes em afirmar que foram em busca de trabalho e que se sentem felizes, principalmente pela ausência de violência. Trabalham duro, poupam algum dinheiro e, talvez, não cogitem retornar ao Brasil.

Enquanto isso, as cidades de Minas e Espírito Santo estão simplesmente derretendo sob as fortes chuvas. Deslizamentos de encostas, desabamentos de casas, ruas e rodovias intransitáveis, um sem-número de mortes.

Culpa da natureza? Não. Culpa da histórica incúria dos poderes públicos, da balbúrdia das construções legais ou ilegais, da corrupção desenfreada das autoridades.

Não há mais planejamento do que quer que seja. Não há fiscalização de obras e da ocupação do espaço. Por onde anda a lei dos 30% destinados a áreas verdes em novos loteamentos? Obras públicas malconcebidas estão sendo destruídas pelas enxurradas, tetos de shoppings estão desabando, obras inacabadas estão se acabando.

Como dizia uma tia velha, este é um país sem rei e sem lei. Parafraseando Chico Buarque, eu diria que esta terra ainda há de tornar-se um imenso lamaçal.