Frederico Jota

Editor de Esportes do jornal O TEMPO e coordenador de Esportes na FM O Tempo

Frederico Jota

O péssimo efeito causado pelas vendas de mando de campo no Brasileirão

Publicado em: Sex, 13/09/19 - 15h54
Avaí vendeu o mando de campo e foi derrotado pelo Flamengo em Brasília | Foto: Alexandre Vidal/Flickr/Flamengo

Antes de mais nada, vale ressaltar: por mais abomináveis que sejam, as vendas de mando de campo são permitidas no Campeonato Brasileiro. A CBF, por meio de seu conselho técnico, autoriza a venda para jogos fora do estado de origem do clube, limitada a cinco partidas e não nas últimas cinco rodadas da competição. Apesar das brandas restrições, a própria entidade que organiza o campeonato mais importante do país mexe em seu equilíbrio e pode, sim, mudar os rumos do torneio.

Na minha opinião, o princípio básico de um campeonato é a igualdade. Logo, todos os clubes devem escolher apenas um local para mandar seus jogos. E todos os adversários, sem exceção, devem jogar no local determinado. Isso vale inclusive em cidades com mais de um estádio. Para mim, por exemplo, o Botafogo deve jogar apenas no Nilton Santos, assim como o Atlético deve escolher entre o Mineirão ou o Independência. Se eu penso que jogar em estádios diferentes na mesma cidade não é legal, imagina vender o mando? 

No atual Campeonato Brasileiro, até o momento, todos os clubes que venderam o mando não venceram. Provavelmente, o resultado seria diferente se jogassem em casa. E os reflexos são nocivos para todos os lados e interferem na disputa pelo título, na luta contra o rebaixamento e por vagas na Libertadores. 

O Vasco é o recordista de vendas até o momento. Empatou com o Corinthians em Manaus e foi goleado pelo Flamengo em Brasília. Além disso, transferiu o jogo contra o CSA para o Espírito Santo e ficou no 0 a 0. Atual líder do Brasileirão, o Flamengo disputou outras duas partidas em Brasília, “casas” de CSA e Avaí. Venceu ambas. Já o Palmeiras derrotou o Botafogo também em Brasília. No próximo final de semana, a capital brasileira será a casa do Fluminense diante do Corinthians.

Entendo as necessidades econômicas dos clubes. O CSA recebeu mais de R$ 1 milhão para levar o jogo contra o Flamengo para Brasília. Mas não justifica. E o torcedor alagoano, que esperou três décadas para ver seu time na Série A e roeu o osso em divisões inferiores? Ficou a ver navios. E os eventuais sócios torcedores, que pagam para ver seu time em casa? São vários aspectos negativos.

O pior aspecto, o esportivo, é evidente. Se levarmos em conta a luta pelo título, por exemplo, Santos e Palmeiras, que lutam pela liderança com o Flamengo, perderam pontos jogando em Maceió contra o CSA, por exemplo. E quem briga lá na parte de baixo simplesmente abre mão de pontos preciosos. Avaí, CSA e o próprio Vasco desperdiçaram a chance de pontuar e desrespeitaram os seus torcedores, assim como o Fluminense, que, pelo menos em tese, tem mais chance de pontuar em casa contra o Corinthians do que em um campo neutro - ou, pior, como visitante, caso os torcedores corintianos sejam maioria no estádio.

Ao permitir a venda de mandos, a CBF arranha a imagem do campeonato que promove, permite absurdos até mesmo a prática em torneios mata-mata (como a Copa do Brasil) e autoriza um desequilíbrio que altera o resultado esportivo. Uma pena. Mas ainda dá tempo de mudar. Os clubes também precisam fazer a parte deles. Não dá para aceitar e muito menos apoiar. 

 

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