Gaudêncio Torquato

A bússola da opinião pública

Implicações políticas da queda da classe média

Por Da Redação
Publicado em 02 de maio de 2021 | 03:00
 
 

Todos os dias ouvimos ou lemos sobre os danosos efeitos da pandemia nas classes sociais, que estarão na lista prioritária dos fatores que influenciarão o voto em 2022. Daí a conveniência de uma análise sobre a questão. Pesquisa recente do Instituto Locomotiva mostra que cerca de 5 milhões de brasileiros saíram da classe média C para a classe baixa. As classes médias, com cerca de 100 milhões de pessoas, abrigam três grupamentos, com ganhos entre R$ 3.000 e R$ 10 mil; pela primeira vez em 10 anos, a faixa com renda familiar entre R$ 265 e R$ 2.200, ou seja, 47% da população, desce um degrau na escada.

Além da perda de renda, essa classe média sofre o choque da queda de status. Sabe-se que o sonho de uma família não é apenas garantir sua posição, mas tentar subir mais um degrau. O trauma psicológico produz desconforto, insegurança, ansiedade, com sequelas sobre comportamentos e atitudes. Se essa tendência perdurar até o segundo semestre do próximo ano, teremos um eleitor profundamente contrariado, tendente a votar em candidatos da oposição.

Ora, dos cerca de 150 milhões de eleitores brasileiros, o grupamento com consciência política provém da classe média. Se considerarmos as faixas C, B e A (menor, médio e maior poder aquisitivo), veremos que aí se abrigam profissionais liberais, pequenos e médios proprietários, comerciantes e comerciários, servidores públicos, autônomos sem mercado de trabalho, pessoas que acompanham a política, criticam ou elogiam os protagonistas da cena institucional.

São os principais sopradores do balão da opinião pública, formado pelos inputs - cargas informativas, interpretativas e opinativas - que batem no sistema de cognição de participantes da vida social. Os fatos – notícias, ações, boatos – entram em tubas de ressonância, uma voltada para o nivelamento da compreensão e outra para exageros e exacerbação. Ou seja, as pessoas alinham os inputs que lhes chegam pelo conhecimento de política ou superdimensionam versões e propagam exageros. A massa amalgamada de pensamentos forma o balão.

Papel de destaque terão as lideranças comunitárias. Cada comunidade, seja na esfera horizontal (bairro, região) ou vertical (profissionais liberais, gêneros), possui uma liderança, referência de expressão e pensamento.

Essa tendência maior dará o tom eleitoral de 2022. Evidente que as margens exercem influência, mas sua forma de pensar liga-se mais à micropolítica, ao alimento mais barato, transporte rápido e barato, eficaz atendimento na saúde, educação de qualidade. O nível de conscientização segue o fluxo das demandas, influenciado pelo caldeirão do andar acima.

Vale a tese sobre o poder de irradiação de ideias das classes médias. Da força da pedra jogada no meio da lagoa formam-se marolas que correm até as margens. Essas ondas são internalizadas pelas margens carentes, engrossando os dutos centrais. São posicionamentos periodicamente aferidos por pesquisas de opinião.

Em suma, senhores protagonistas do teatro político, entrem no palco com os olhos e ouvidos colados à opinião pública.