Gaudencio Torquato

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor (USP) e consultor político e escreve todos os domingos

Os caminhos da eleição

Publicado em: Dom, 19/08/18 - 03h00

O não voto – abstenção, votos nulos e brancos – atinge seu mais alto índice, de 40%, e até de 50% em algumas regiões. Ocorre que nunca se viu interesse tão grande pelo pleito, em todos os circuitos. Aparentemente, uma contradição. De um lado, a disposição de se afastar do processo; de outro, uma grande motivação pelo debate. Há nexo entre as posições? Resposta afirmativa.

O conjunto de crises no país – política, econômica, moral-ética – mexe com os brios do eleitor. Abre os pulmões da revolta, fazendo a sociedade virar as costas para a política, e oxigena o corpo social.

Esse jogo favorece a democracia, alimentado pelos grupos participativos e críticos. O Brasil está ativo, não padece de inanição em suas veias.

Vejamos o que se comenta. Bolsonarianos defendem a ideia de que seu candidato porá ordem na casa, acabando com a bagunça. No cesto, um pouco de tudo: a propinagem da corrupção; a bandidagem ceifando vidas; a invasão e a depredação de patrimônios por MST, MTST e congêneres; o apartheid social apregoado pelo PT e aglomerados, açodando a luta de classes.

Para fortes parcelas das margens e do topo da pirâmide, Bolsonaro é o guerreiro para lutar contra os responsáveis pela degradação social. Mesmo simpatizantes do andar superior desconsideram o fato de sua eventual vitória puxar o país para a extrema direita, fechando portas a posições progressistas e renovadoras.

No outro extremo habitam os defensores do lulopetismo, representados pelo candidato a vice Fernando Haddad, cuja aparência jovial não disfarça a posição de ventríloquo de Lula. O slogan diz tudo: “O Brasil feliz de novo”. O engodo foca as massas saudosas da era lulista, que tinham fácil acesso ao consumo. O rombo da era dilmista será esquecido entre as más recordações. A própria mandatária será elevada ao Senado pelo eleitorado mineiro. Contradições da política.

As margens petistas correm em direção ao banquete, e as do meio desfraldam a bandeira da luta de classes. Sonham com o triunfo do comunismo/socialismo clássico, que não sobrevive nem na China, e vive seus estertores na Venezuela e na Nicarágua, ou ainda sobrevive nas ditaduras de Cuba e Coreia do Norte.

Os extremos vestem seus ícones com o manto de “salvadores da pátria”. Seriam as maiores parcelas do país? O território devastado pela corrupção será empurrado para um governante da extremidade? O que ocorrerá em caso de vitória de um ou outro? A óbvia resposta aponta para uma larga rachadura social e consequente expansão dos confrontos.

No fluir das conversas emerge uma saída pelo meio, abrigando os perfis de Alvaro Dias, Geraldo Alckmin e mesmo Ciro Gomes, cuja linguagem gera polêmica. Meirelles e Marina estariam fora: o primeiro pelo peso do perfil; já à guerreira do verde amazônico faltaria estrutura para amealhar a maioria eleitoral.
Esse é o tom da orquestra neste início de concerto.

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