Gilda de Castro

A constante luta das mulheres por respeito e um lugar ao sol

Publicado em: Sex, 19/10/18 - 03h00

O acirramento político-ideológico dos últimos meses vem desencadeando conflitos em vários ambientes, porque se ignoram os diferentes matizes entre os dois polos, como se estes fossem absolutos entre ser e não ser um cidadão honesto. Retalia-se, daí, o adversário visto como inimigo; portanto, uma pessoa indesejável por sua escolha de candidato a presidente da República.

Essa radicalização tem gerado rótulos desabonadores às categorias percebidas como nefastas. Estão, entre elas, as “feministas”, envolvendo mulheres com deploráveis atitudes para confrontar a sociedade percebida como intolerante e retrógrada. Infelizmente, seus críticos incluem uma legião de cidadãs que superaram antigas amarras para adquirir autonomia econômica e têm circulado por espaços públicos mais nobres, obtendo projeção social. Isso é muito recente na história da humanidade, pois a alta qualificação universitária e os ambientes profissionais eram exclusivamente masculinos até meados do século XX. Elas foram assimiladas facilmente, a partir daí, apenas em ocupações paradomésticas, como a docência no ensino fundamental e as funções subalternas nos serviços de saúde.

Não podemos aceitar agora retrocesso nas conquistas que ainda estão muito distantes da equidade de gênero quanto aos direitos e deveres diante da sociedade, haja vista as intoleráveis ocorrências de feminicídio, a disparidade dos níveis salariais, os percentuais insignificantes de mulheres em cargos executivos e nas altas esferas do Estado e o assédio sexual em vários ambientes. Apenas 15% das cadeiras na Câmara Federal serão ocupadas por mulheres na próxima legislatura, embora os partidos políticos tenham respeitado a cota para as inscrições, porque eles acolhem poucas candidatas competitivas e manobram os recursos materiais em benefício dos homens.

Aliás, tem havido abominação da palavra “gênero”, uma denominação técnica que se refere à construção social para a diferenciação sexual existente na espécie humana, porque envolve os membros dos grupos LGBTs, com longa história de perseguição que inclui opróbrio, discriminação de oportunidades e mesmo assassinato dos que evidenciam sua opção alheia aos modelos tradicionais. Não cabe a qualquer teórico ou líder político definir categorias anômalas, porque isso fomenta animosidade, gerando conflitos que podem comprometer a ordem social.

Se a discriminação de minorias sociais é injusta, torna-se insuportável em relação às mulheres, que constituem metade da humanidade e assumem plenamente o processo reprodutivo. Justamente esse fenômeno biológico, que se amplia com a maternagem, assegura a preservação da espécie e da sociedade. Assim, cada atividade que elas realizam no espaço público é um sobretrabalho, pois vencem, diariamente, desafios domésticos e profissionais, sabendo que a preterição está sempre no horizonte a partir de argumentos às vezes ridículos.

Os brasileiros precisam rever seu perfil androcêntrico, superando preconceitos em relação às minorias sociais, porque é indispensável pacificar o país. As divergências políticas não devem cristalizar-se em facções que podem recorrer a confrontos fratricidas, como aconteceu na Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul; em Canudos, contra Antônio Conselheiro; na Revolução de 1930; na Revolução Constitucionalista e na repressão aos adversários dos regimes de exceção, para citar apenas os mais graves dos últimos 125 anos.

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