GILDA DE CASTRO

A contínua luta das mulheres por sua autonomia

Conquistas vão alterar significativamente a organização social

Por Da Redação
Publicado em 10 de março de 2018 | 03:00
 
 

A opressão masculina mantém-se ainda hoje, mas as peculiaridades físicas não condicionam a superioridade dos homens, porque a dissonância nas relações de gênero resulta de modelos selecionados a partir de interpretações subjetivas sobre a realidade orgânica.

É claro que a maternidade interfere em atividades fora do ambiente doméstico. Ela não pode justificar, entretanto, discriminação de oportunidades e definição de metas reprodutivas mediante interesses político-econômicos dos poderosos. As mulheres querem equidade de direitos e deveres, embora sofram críticas pelo abandono do modelo tradicional de esposa/mãe. Insistem nisso porque sua história está pontilhada pela humilhação e expropriação inerentes à dominação econômica, política e simbólica.

A opressão masculina cresceu com a Revolução Agrícola, quando os homens perceberam a proeminência feminina no processo reprodutivo, pois suas esposas poderiam transformar filhos de outro homem em herdeiros de seu patrimônio. Criaram normas rígidas para cercear o movimento das mulheres, com discursos de que seriam perigosas. O Talmude registra a história de Lilith, que não se submeteu ao marido, abandonou-o e compactuou com satanás para desafiar Deus. Os cristãos aprendem que Eva se deixou convencer pela serpente, comeu o fruto proibido e induziu seu marido à mesma falta, provocando a expulsão do Paraíso.

Muitas mulheres não se intimidaram, desafiando a autoridade masculina e os preceitos religiosos, porque precisavam garantir sua subsistência e a própria vida para superar as intercorrências da gestação e do parto. Contavam com as parteiras, que sofriam perseguição porque conheciam propriedades terapêuticas de plantas, criavam rituais mágicos, diagnosticavam enfermidades e inventavam métodos contraceptivos. Logo, poderiam também provocar aborto, promover esterilidade, acobertar adúlteras e praticar feitiçaria. Milhares foram condenadas à fogueira, durante os 600 anos da Inquisição, em processos sumários, especialmente na Espanha, França e Alemanha.

Aliás, alguns casos de rebeldia feminina mostram uma correlação desequilibrada de forças políticas. Agnodice, por exemplo, vestiu-se de homem para assistir a conferências médicas, num templo de Atenas; foi presa e levada a julgamento, provocando mobilização popular em sua defesa. Hipácia (370-415 d. C.) era matemática, astrônoma e filósofa neoplatônica. Foi morta pelos monges e pela plebe, fanatizados pelo patriarca Cirilo.

Muitas brasileiras são assassinadas por companheiros, especialmente quando rompem relacionamento permeado por agressão sob qualquer pretexto. Sofrem também diferentes tipos de assédio em vários espaços sociais. Diante disso, alguns segmentos feministas radicalizaram, despertando aversão de setores conservadores. Parcela significativa mantém, entretanto, sua luta silenciosa para avançar em suas conquistas, que devem acarretar alteração significativa na organização social, contrariando os interesses masculinos.