Gilda de Castro

Belo Horizonte: 120 anos depois

Publicado em: Sáb, 09/12/17 - 02h00

Belo Horizonte está celebrando 120 anos como capital de Minas Gerais. Seu projeto foi arrojado, porque os idealizadores pretendiam criar uma cidade perfeita, inspirados nas teorias positivistas seguidas pelos republicanos. Eles tinham interesse em impressionar outras nações com a ousadia do empreendimento. Havia intensa corrente migratória de europeus que contribuiriam aqui com modernas técnicas em urbanismo, arquitetura, indústria e comércio.

A cidade foi construída onde existia, desde 1701, o povoado Curral D’El Rey. Todas as edificações teriam alto padrão arquitetônico, e projetou-se que haveria, no ano 2000, 200 mil habitantes dentro da avenida do Contorno.

O planejamento sofreu logo alterações, porque não se molda autoritariamente uma sociedade. As pessoas constroem sua história, adaptando suas necessidades às disponibilidades ambientais, traçando os rumos da economia e respondendo altivamente às determinações oficiais. Assim, a cidade não se conformou ao modelo estabelecido e ganhou vida própria, definindo seu próprio destino.

Na época do centenário, ela mostrou que havia ultrapassado todas as previsões de seus idealizadores. Desde então, os problemas aumentaram bastante, especialmente em relação à mobilidade espacial, à desigualdade social, ao desprezo a seus recursos hídricos, à inadequada articulação com as cidades satélites, à mutilação de seu patrimônio arquitetônico, às deficiências da rede de serviços públicos, à insegurança dos cidadãos em qualquer ambiente e à ausência de modernas técnicas para conter desmoronamentos em relevo adverso.

Chuvas intensas trazem transtornos para o cotidiano do ir e vir e pesados prejuízos para a comunidade, como tem acontecido nos últimos dias. O metrô continua restrito à superfície em apenas 27 km, sem esperança de que ele seja efetivamente implantado em diferentes sentidos. As favelas mantêm-se em várias regiões da cidade, mostrando que parcela considerável da população não tem condições dignas e seguras para viver aqui. A saturação do espaço, no município, levou ao assentamento de milhares de famílias nas cidades satélites da região metropolitana, que têm sérios problemas administrativos, porque são apenas dormitórios dos que produzem na capital.

Indispensável ressaltar a exposição da rede elétrica e de telefonia, porque ela compromete a estética da cidade, segurança dos transeuntes, eficiência dos serviços e racionalidade dos custos. Brasília foi inaugurada há 57 anos com todo o cabeamento subterrâneo, e isso é padrão em todos os países desenvolvidos. Não é o que acontece aqui. Alguns logradouros de Belo Horizonte já têm essa qualificação, mas minha rua, por exemplo, conta com dezenas de fios dos dois lados, sendo que um deles soltou-se do poste e está amarrado a ele há muito tempo, para horror de um francês que esteve recentemente em minha casa.

Celebrar a efeméride com tantos problemas? Nem fechando os olhos, porque podemos cair nas calçadas irregulares!

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.