GILDA DE CASTRO

Doenças, aflições e a busca por cura mágica

Busca-se solução para o mal-estar, sem esperar muito da medicina

Por Da Redação
Publicado em 21 de abril de 2018 | 03:00
 
 

Xamanismo, súplicas a santos católicos, apelos a orixás das religiões afro-brasileiras ou a centros espíritas, benzeções e terapias esotéricas compõem o sistema médico denominado mágico-religioso. Ele se baseia em crenças quanto a causas não orgânicas de enfermidades ou à cura por intervenção divina, ao longo da história humana.

Na Antiguidade, a medicina era exercida por sacerdotes, durante cultos aos deuses. Os gregos iniciaram o conhecimento médico desvinculado do sobrenatural, mas a terapia era realizada nos templos de Apolo. Na Idade Média, os cristãos, retomando a noção hebraica da doença como castigo ou purificação da alma, e da cura como graça divina, rejeitavam as práticas higiênicas e terapêuticas desvinculadas da religião. Consideravam pecaminoso sobrepor a medicina à crença religiosa porque o Evangelho dispensava outro conhecimento, e os enfermos deveriam fazer peregrinação às tumbas dos santos para recuperar a saúde.

Sociedades tribais acreditam que os distúrbios são consequência da ação negativa de algum espírito, e populações urbanas associam-na, ainda hoje, a problemas extranaturais. Essa relação cresce quando a medicina não demonstra os processos patogênicos nem oferece bons resultados. O sistema mágico-religioso fascina, então, os doentes que querem entender a origem de sua enfermidade, porque ele trabalha a razão do aparecimento do mal, ignorando a descrição fria do processo nos cânones científicos. Uma pessoa que está sentindo dores sempre pode indagar com amargura: “Por que estou merecendo isso?”.

Os antropólogos estudam essas interpretações sobre doença e procedimentos terapêuticos, denominando-os cura mágica. Esta se caracteriza pela busca de conceitos do imaginário coletivo e do universo religioso. Essas noções influenciam muito as pessoas e são, atualmente, percebidas por diversos profissionais como vinculadas a problemas psicossomáticos. Há, entretanto, mais do que efeito psíquico nessas curas, pois sabemos hoje que a crença religiosa e a meditação mobilizam forças naturais do corpo capazes de garantir a superação de distúrbios orgânicos.

A crescente procura de técnicas extranaturais é medida importante quando se considera a crise de atendimento médico no país. A distância dos profissionais em relação aos “pacientes”, sua percepção dirigida à doença, e não ao doente, as terapias muito invasivas, a especialização excessiva, a impotência diante de algumas enfermidades e a precariedade dos ambulatórios e hospitais públicos provocam desânimo nas pessoas quanto à eficiência dos profissionais e aos resultados obtidos.

O doente (ou sua família) busca sempre soluções para seu mal-estar, sem esperar muito que a medicina institucional venha a dar resposta a seu problema. Quando há dor intensa, incapacidade para o trabalho, marginalização social ou risco de vida, uma pessoa apega-se a qualquer proposta promissora, especialmente se o enfermo é criança ou jovem, deixando que suas emoções sobreponham-se a sua racionalidade.