GILDA DE CASTRO

O triste resultado da corpolatria e do charlatanismo explícito

Estamos vivendo a civilização da imagem e da aparência

Por Da Redação
Publicado em 02 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
Duke

A mídia tem registrado a morte de mulheres que se submeteram a procedimentos estéticos realizados em ambientes improvisados, por profissionais sem qualificação plena para a cirurgia plástica ou por aventureiros que exercem ilegalmente a medicina e aplicam produtos impróprios ao organismo humano. Algumas vítimas tinham optado por preços menores e não avaliaram as condições para uma intervenção segura. Parece, então, que a fila é inesgotável, porque o apelo pela beleza física suplanta o bom senso, compelindo para recursos que, em sua percepção, viabilizariam amor e sucesso entre as amigas. Elas se deixam levar, facilmente, por propagandas enganosas em redes sociais, sem fiscalização sanitária.

Outras mulheres pretendem escamotear o envelhecimento, reparar sequelas de acidentes ou corrigir cirurgicamente anomalias, às vezes insignificantes.

Há ainda jovens bonitas que desejam realçar seus atributos físicos com silicone, seguindo o modismo vigente entre estrelas do show business, para ter sucesso em seu universo pessoal e profissional. Isso ficou mais intenso, nos últimos anos, porque estamos vivendo a civilização da imagem, em que predomina a perversidade de verificar constantemente, nas redes sociais, a aparência e o ambiente de amigos e inimigos para auferir sua condição de vida.

Acatamos, cada vez mais, exigências relativas aos cuidados com o corpo, enquanto a sociedade oferece modernas técnicas de embelezamento, dinamizando o sistema produtivo e as áreas da medicina estética. Cresce, então, a imposição de qualidade do vestuário, tratamento do cabelo, peso e expressão corporal, sob a premissa da relevância do marketing pessoal em todas as situações. Isso impõe a corpolatria, em que obesidade e envelhecimento são os pontos mais críticos no delineamento do perfil desejável.

As mulheres com recursos limitados tornam-se presa fácil de aventureiros que se apresentam, ardilosamente, nos mesmos circuitos virtuais. Elas precisam, portanto, de cautela para não cair na armadilha e devem livrar-se desses ditames da moda quanto à apresentação moderna para integração plena à sociedade.

Os homens padecem de dificuldades semelhantes, pois existem vários itens que interferem em suas conquistas amorosas e na disputa por vaga no mercado de trabalho, mas parece que não têm enfrentado os mesmos dissabores com os aventureiros. Mesmo assim, sentem que há discriminação quando têm papada, calvície, estrabismo, barriga grande e sardas, características que estão em discrepância com os modelos predominantes de beleza e juventude.

A aparência tornou-se fator de empregabilidade e de avaliação do indivíduo, reforçando a crença de que uma pessoa bonita encerra qualidades superiores em qualquer dimensão de sua vida. Esse preconceito deve ser superado no terceiro milênio, porque há muitos recursos para propiciar habilidades ajustáveis a quem apresenta alguma limitação física ou mental para conferir vida digna a todos. Não podemos permitir que a crueldade prevaleça, no mundo contemporâneo, em relação aos que têm anomalia física, doenças degenerativas e distúrbios mentais, pois o sol nasceu para todos.

É importante ressaltar que a medicina estética conduzida por profissionais competentes elimina muitos problemas que interferem na integração dos indivíduos com alguma deformidade, mas ela tem alto custo, e muitos casos não estão cobertos por convênios nem pelo atendimento público de saúde.