GILDA DE CASTRO

Os cidadãos e os vícios da política brasileira

Vencedores pregam o paraíso e nunca cumprem programas

Por Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 

Os brasileiros precisam usar, no dia 7 de outubro, o principal instrumento para definir seu futuro, mas 47% estão planejando ausência, anulação ou voto em branco, segundo o Instituto Paraná Pesquisas. Estão irritados com os escândalos dos últimos anos e maldizem a participação obrigatória, d<CW-22>esdenhando o direito de escolha de seus governantes. Essa postura é um equívoco, porque todos são, direta ou indiretamente, afetados por eles. Além disso, sua alienação refletirá em seus descendentes, pois as decisões das lideranças condicionam definitivamente os rumos da sociedade. Portanto, não nos cabe apenas reclamar do lamentável quadro político; precisamos manter vigilância diuturna sobre os eleitos, impondo normas para eliminar os vícios que comprometem a eficiência do Estado e corroem o patrimônio de todos os brasileiros. Senão, teremos sempre os mesmos desmandos que vicejam no ranço coronelista em todos os partidos e nos princípios ideológicos quanto à maneira de se fazer política.

Há aqui o consenso de que os vencedores podem ter autonomia plena para administrar, pois sua proposta foi vencedora, mas eles pregam sempre o paraíso e nunca cumprem seus programas de campanha. Simplesmente apropriam-se da administração pública para impor sua vontade e realizar seu projeto pessoal junto a aliados que ignoram os interesses da comunidade. Isso é possível porque a legislação permite recrutamento para milhares de cargos em todas as esferas do Estado, que leva ao loteamento de todos os espaços, estratégia importante para a perenização no poder. Assim, enquanto os servidores concursados não assumem papel relevante na máquina governamental, os contratados pelo vitorioso ficam com os postos de decisão, embora não tenham compromisso com a qualidade do trabalho prestado. E mantêm-se ao alcance dos que realizam negócios com o Estado, cobrando propinas e condicionando as obras a seus interesses e aos dos empresários.

Essa definição de equipe permite que o grupo vencedor faça do governo extensão de seu partido político, ignorando o princípio de que o Estado não pode ser partidarizado para atender o interesse público e cuidar do patrimônio sem viés ideológico de alguns. Esse problema fica mais crítico diante da inconsistência programática das agremiações brasileiras, pois elas são organizadas a partir de aspirações paroquiais. Assim, os detentores do poder local condicionam as alianças para as decisões nacionais mediante sua conveniência pessoal, a despeito das carências do país. Esperam também enriquecer quem garante preciosas “caixinhas” para a campanha seguinte.

Outra mazela é o abandono de antigos projetos para que o governante aponte os equívocos da gestão anterior e realize obras de fachada sem considerar prejuízos econômicos, históricos e sociais. Há, então, permanente desconstrução do patrimônio público, onerando o contribuinte ao condicionar as ações a suas idiossincrasias. Torna-se, portanto, indispensável modernizar essa postura.