Heron

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Cabia prisão preventiva

Publicado em: Sáb, 07/11/15 - 02h30

Desde a notícia de que o rompimento da barragem da Samarco matou pessoas e arrasou inteiramente a bucólica Bento Rodrigues, empresas, shoppings e cidadãos de diversas partes do Estado estão mobilizados em campanhas de arrecadação de donativos. É de se glorificar a iniciativa de toda essa gente que arregaça as mangas e se envolve em um movimento cujo objetivo é o de atenuar a dor de quem perdeu tudo, ou quase tudo, o que construiu durante uma vida inteira.

Porém, a solidariedade, apesar de bela, não pode ser o sentimento prioritário neste momento em que presenciamos aquela que pode ser confirmada como a maior tragédia ambiental da história de Minas Gerais. O que ocorreu é um severo crime contra a população e a natureza. Se estivéssemos em um país minimamente correto, já haveria gente presa.

O que se ouve, no entanto, são apenas divagações. A sexta-feira de terror e perplexidade, com o mar de lama tóxica tomando conta de residências, ruas, praças e todo tipo de construção, não foi o suficiente para que o Ministério Público e as autoridades policiais e governamentais deste país agissem satisfatoriamente.

Apenas pedir a antecipação do programa Bolsa Família para os afetados não é o bastante. Saber que as ações da Vale, acionista da Samarco, despencaram após o “acidente” não consola os pacatos cidadãos de Mariana e Barra Longa. Fechar a mina depois do ocorrido? Pra quê?

O sentimento de que há lei deveria aflorar imediatamente, porém ela tarda em ser aplicada.
Também não é aceitável que a Samarco, através de um vídeo simplista de seu presidente, apenas peça compreensão por parte da imprensa e dos afetados.

Ainda não se sabem, ou não foram divulgados, os fatores que ocasionaram tamanha destruição, mas, seguramente, a irresponsabilidade encabeça a lista de motivos para tamanha dor.

A Samarco, em vez das bem-intencionadas doações, deveria suprir as famílias abaladas. Cada residência perdida, cada colchão destruído, aparelho estragado ou animal morto, além do trauma psicológico em milhares de mentes, devem ser indenizados pela mineradora.

Mas não é só a indenização. Estamos diante de um flagrante delito. Se a polícia se depara com um suspeito de homicídio diante de um cadáver com as mãos sujas de sangue, ela tem elementos que justificam o recolhimento deste indivíduo até que provas sejam obtidas e averiguadas. É isso o que temos.

Pelo que começamos a perceber, a Samarco desconsiderou avisos e diversas informações importantes que poderiam ter evitado o pior. Não adotou procedimentos de segurança. O registro de abalos sísmicos pela Universidade de Brasília não foi ignorado, e as sirenes de emergência, se existem, também não foram acionadas. Portanto, há elementos de sobra para indiciamentos.

Que a solidariedade possa diminuir o sofrimento dos novos sem-casa de Minas, mas que o exercício da justiça traga, de fato, o conforto esperado pelas indefesas almas da bacia do Rio do Carmo.

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