Tanto os eleitos como seus projetos carecem de ser apreciados

A dança dos números e a política popular

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2014 | 03:00
 
 

Nos fins e inícios de ano, o noticiário cobre-nos com estatísticas, ora sinalizando crescimento, ora estagnação ou mesmo decréscimo da economia do país. O PIB excele como ponto de referência. Os juízos sobre as políticas e governos decorrem do jogo dos números. Há verdade parcial nessa aferição.

No entanto, questões fundamentais e importantes escapam, muitas vezes, da grade estatística do PIB. Basta parar um minuto e pensar. Se o crescimento do PIB reverte para minorias já endinheiradas e sobram para os pobres as migalhas que caem da mesa, então, para o povo tal crescimento traz pouca coisa. Outra hipótese: o PIB não aumentou tanto, mas cresceu a distribuição de renda, os mais ricos diminuíram a fortuna porque ela escorregou para regiões pobres pela via do Estado. Que acontece? A imprensa hegemônica grita. Mas o povo agradece.

Para o leitor diário dos jornais, não fica claro como anda o real desenvolvimento do país, especialmente no referente à melhoria da educação, saúde, transporte público e moradia popular, se ele só lê as interpretações dos financistas, da elite do capital. Terrível, sim, quando acontece que o Estado, pensado na política como o mediador da justiça social e o promotor do bem comum, se vê amarrado por interesses das elites. Falta-nos uma imprensa antes voltada para os interesses populares para que, com seus juízos sobre as políticas do Estado e sobre as manobras dos governos federal, estadual e municipal, nos mostre a verdade do que acontece.

A decadência visível da democracia representativa advém de ela ter perdido seu sentido popular, até mesmo etimológico: demos = povo, krátos = poder. O povo tem aparente poder nas eleições, já que se misturam, cada vez mais, influências espúrias, instrumentalizadas pela força midiática, controlada pelos poderes dominantes. Embora numericamente as camadas populares levem de longe vantagem nas eleições, na realidade, porém, outros interesses vencem. A ilusão democrática tem conseguido permanecer até hoje, mas já dá sinais de exaustão. A imaginação política está a pensar outro tipo de democracia que substitua a simples representação eletiva pela participação permanente do povo.

Tanto a atuação dos eleitos como os projetos que eles apresentam no Parlamento carecem de ser apreciados constantemente. Não cabe assinar cheque em branco entregue aos políticos pelo simples ato de terem sido eleitos. Antes, a vigilância continuada permite orientar a política na direção dos interesses da maioria. Resta o grande desafio de como organizar o povo de maneira permanente e consciente, a fim de interessar-se pelo comportamento político dos eleitos e pelos projetos em trâmite no Parlamento. Um mínimo de realismo nos mostra que a vida cotidiana do povo rola tão dura que lhe sobram poucas energias para seguir a política do país. Desafia-nos superar a lei do menor esforço, que nos faz empurrar para frente e para outros a pesada tarefa de pensar a política popular no presente e para o futuro.