Será verdade que as tratamos tão bem e as preparamos realmente?

Criança: a ilusão do futuro ou a realidade das vítimas?

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2013 | 04:00
 
 

A cultura cria mitos. As crianças têm sido mitificadas com a imagem de inocência, beleza, carinho, anjos a brincar. Nem sempre aconteceu na história e nem em todos os países existe a sensibilidade carinhosa para com elas. Em culturas antigas e em certos países exageradamente capitalistas, elas significam empecilho, dificuldade e estorvo. No evangelho, quando as trouxeram para Jesus abençoá-las, os apóstolos se opuseram (Mt 19, 13). Mereceram repreensão de Jesus, que as propôs como símbolo do Reino de Deus, as acolheu com imenso carinho e advertiu gravemente quem as escandalizasse (Mt 18, 3-10). Algo surpreendente!

Na nossa cultura brasileira, desenha-se-lhes delicada imagem. Não nos cansamos de dizer que elas serão o futuro. Celebramos o Dia da Criança. Será verdade que as tratamos tão bem e as preparamos realmente para ser o futuro do país? Não se esconde por detrás de tantos programas, DVDs, sites sobre e para as crianças interesses outros que terminam por fazer delas antes vítimas que futuro?

Se as olhamos sob o ângulo biológico, naturalmente elas serão o futuro. Estaremos todos mortos e elas, as pessoas adultas de amanhã, tocarão a história. Mas o termo futuro não se entende em tal sentido. Imagina-se que o amanhã será radioso, belo, promissor, ao olhar para uma criança.
Tal cena veste-se de mito. Há parte de verdade e parte de ilusão somada com interesses ambíguos. Acontece na sociedade e em muitas famílias sério cuidado para que as crianças recebam a melhor educação e assim se preparem para construir para si e para o país futuro alvissareiro e carregado de felicidade. Verdade!

A mentira, o engodo, o toque ideológico vêm de várias fontes. Sob discursos aduladores, escondem-se inúmeras violências. Com frequência, jornalistas lançam a público descobertas em diversos lugares de crianças submetidas a trabalho escravo. Não raro, os pais, sofrendo situação de tamanha pobreza, acabam aceitando a situação em troca de alguns bens materiais ou dinheiro.

Outra situação vitimiza-as: o não frequentar as escolas. Andam para mais de um milhão. Como esperar futuro luminoso se tantas crianças estão fora da escola, ou abandonam-na antes de concluir o curso ou mesmo frequentam uma de má qualidade? Eis vítimas escolares das quais não se espera nenhum futuro auspicioso. Há vítimas ainda piores. Sofrem exploração sexual. Muitas na sua própria casa. Outras caem na malha da prostituição infantil. Enfim, número incalculável é atingido clara e subliminarmente por programas de TV, sites, que terminam sexualizando-as precocemente.

Não faltam ainda aqueles que as exploram pela via do consumismo. Descobriram o mercado infantil. E instrumentalizam-nas para que consigam dos pais comprar os objetivos das propagandas. Há pais pobres que se sacrificam ao extremo para satisfazer os desejos dos filhos. Tantos pais e crianças sucumbem à dominação do mercado. E aí não há futuro, mas unicamente vítimas. O futuro dependerá do que investirmos em educação ética da geração jovem em contraposição a tantos fatores que a pervertem.