Joao Batista Libanio

Entre as micro e as macro soluções para a sociedade

Publicado em: Dom, 12/01/14 - 02h00

A sociedade atual vive doloroso paradoxo. Tem desenvolvido altíssima tecnologia para plasmar pequenos objetos. A nanotecnologia nos fascina. Cada vez os celulares conseguem unir em pequeno aparelho tão enorme quantidade de ofertas que escapam ao uso normal. A internet oferece bilhões de sites que uma vida não consegue frequentar. Os automóveis se sofisticam cada vez mais com recursos eletrônicos. Admiramos a inteligência humana na capacidade de inventar e produzir maravilhas no campo da eletrônica, da biotecnologia.

No lado oposto, cria-se verdadeiro inferno e arrisca-se grandemente o futuro da humanidade, quando se pensa nas dimensões do macro. Basta mero olhar para o mapa do Brasil para ver a loucura do tipo de ocupação territorial que estamos a desenvolver, concentrando dezenas de milhões de pessoas em espaços reduzidos com terríveis consequências sociais.

As mobilizações de junho de 2013, que movimentaram alguns milhões, sobretudo jovens, denunciavam o “inferno urbano”. Cada carro exibe alta tecnologia, fruto de inteligência criativa. A cidade no conjunto revela atrasos incompreensíveis, de burrice astronômica. A mesma inteligência que equipou o automóvel de recursos tecnológicos avançados não consegue pensar outra maneira de morar, organizar, mover-se na cidade. Congestionamentos, filas intermináveis, horas paradas no trânsito fazem parte do dia a dia.

A indústria de construção devora os espaços verdes, sobe com edifícios altos, concentrando pequenas cidades em único prédio. Cantilena antiga repete que o gigante geográfico brasileiro ainda dorme sem reforma agrária, entregue às mineradoras e à agroindústria, que aumentam o fluxo de pessoas para as cidades já super-habitadas.

Já era tempo de inverter a orientação do pensar. Em vez de acelerar o micro, voltar-se para o macro, a fim de planejar a sociedade das próximas décadas. Moradia, educação, saúde, transporte público, alimentação sadia na dimensão macro desafiam a criatividade humana do futuro. As soluções imediatas enganam-nos, como remendos nunca fazem veste nova.

As micromudanças fascinam e ganham mais votos. Por isso, os políticos investem nelas, deixando atrás de si rastros de graves problemas. Para quem? Para todos nós. O futuro depende das macrossoluções. A humanidade atingiu já 7 bilhões de habitantes e aí já não funcionam soluções estilo celular bem-equipado. O volume dos transtornos diários por causa das demandas das multidões não se soluciona com miradas para a própria esquina.

Cabe apostar em projetos a longo prazo e de alcance que visem a construir amanhã melhor para toda a sociedade, especialmente para os que padecem à margem das benesses sociais. Não se trata de tarefa fácil. Os poderes do dinheiro por causa da ganância imediata obstruem os planos de maior envergadura. Haja vista a questão do metrô em Belo Horizonte, cujo mover-se se torna cada dia mais trágico. Haja inteligência para construir o futuro, e não só se prender ao presente! 

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