JOÃO GUALBERTO JR.

Está difícil ser otimista

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 05 de dezembro de 2016 | 03:00
 
 

A que ponto chegarão os atritos internos à República? Levarão a um quadro de autodilapidação? Pois que não resta dúvida, neste apagar de 2016, que as fraturas em nossas instituições são das mesmas abertas na sociedade. Representantes dos Poderes operam para amealhar mais forças em uma conjuntura de fluidez de princípios. E o povo com isso, esqueça.

Está difícil nutrir algum otimismo no médio prazo. Uma razão é que as fraturas tendem a se aprofundar por alimentarem extremismos no tecido social. Há carência de estadistas dignos de suportar a tarefa de conduzir a nação a um pacto de reconfiguração institucional. FHC, decano aposentado, já posa querendo sem demonstrar querer: “um grande passado pela frente”, diria Millôr Fernandes.

Outra razão é o acordo de delação da Odebrecht, a delação “do fim do mundo”. Mais de uma centena de homens públicos, de partidos de A a Z e das mais diversas patentes, figuram entre os que um dia foram beneficiados pelo departamento de propinas da empreiteira. Só há dois caminhos, a depender das prioridades dos deuses de toga: a implosão da República ou um acordão.

As revelações e as implicações processuais e penais que virão da delação serão um fermento à demonização da atividade política já impregnada na sociedade. Confunde-se, na verdade, determinados agentes políticos com a política, e o risco é rejeitar-se esta sem que se vise à renovação daqueles. Um perigo, visto que a negação da política é outro nome para fascismo.

Para uma renovação institucional que preserve a democracia, além de novos líderes, carecemos, e muito, de amadurecimento, de formação política de base. Jamais se teve essa preocupação de Estado, muito pelo contrário: a perpetuação da deseducação, como ferramenta de desarticulação social, é política pública histórica de preservação de status.

E o que temos para o futuro? A PEC 55, também chamada de PEC do Fim do Mundo. Sim, ela será aprovada com bombas e cassetetes de um lado e, do outro, com coquetéis e galerias do Congresso fechadas. O destino de uma geração (e das vindouras, por reflexo) estará prejudicado. Foi feita a escolha por quem governa o país em nome dos mais abastados, ou melhor, por quem é governado pelos mais abastados. Reforma tributária por mais progressividade? Não! Impostos sobre dividendos, fortunas e heranças? Não! Revisão de aposentadorias e pensões de parlamentares, magistrados e militares da reserva? Não! Auditoria da dívida pública cujos serviços chegam a consumir 45% (!!!) das receitas da União? Não!

A saída, com toda delicadeza, é botar na conta do povo, como sempre, e ele, deseducado, cordialmente, crê não haver alternativa para o reequilíbrio fiscal do país. O povo, ignorado pelos Poderes em guerra, e convencido de que a política não presta e de que a corrupção é o que existe de pior no Brasil, conduzirá ao trono um salvador da pátria, um falso profeta. E, entronado, o que fará este? Vai apenas aprofundar nossas rachaduras de ignorância, pobreza, desarticulação e violência estatal. Ai, ai, a história...

Está difícil ser otimista. Mas perder a fé? Isso não se pode, não se deve.