Jose Reis Chaves

José Reis Chaves é teósofo e biblista e escreve às segundas-feiras

A verdade verdadeira é racional; ela se impõe por si própria

Publicado em: Seg, 21/11/16 - 02h00

Perguntaram a Jesus (João 18: 38) e a Buda o que é a verdade, e não houve respostas. Os dois foram muito prudentes, pois só a verdade divina é absoluta. A nossa é sempre relativa.

Há muitos tipos de verdade, entre eles, a subjetiva, a objetiva, a religiosa, a política e a meia verdade. A subjetiva é restrita a uma pessoa ou grupo de pessoas e, às vezes, não passa de apenas uma opinião; a objetiva é uma verdade mais ampla, pois é geralmente aceita por uma grande maioria de pessoas; e a política, pode-se dizer que é igual à que denominamos de meia verdade e que divide muito as pessoas. A própria palavra “partido” dos grupos políticos significa divisão. A verdade, pois, de um partido é a verdade de um grupo de pessoas que defende um determinado ponto de vista desse grupo. E um partido político pode ter uma ideologia boa ou ruim. Um exemplo de uma ideologia ruim é a do PT que, enquanto esteve no poder em nosso país, o que mais fez foi defender a ideologia antidemocrática esquerdista, já vencida, e tentar instalar em nosso país um regime desta fracassada ideologia que eu denomino de capitalismo estatal dos que estão no poder. E quanto ao resto da sociedade rica ou pobre, ela que se vire!

E vamos a alguns exemplos de verdades religiosas divergentes. O monotelismo é uma doutrina que surgiu nos primeiros séculos do cristianismo. Segundo ela, Jesus Cristo tem uma só vontade, pois os seus defensores ensinavam que Jesus possuía apenas uma natureza. É que eles aceitavam o monofisismo, doutrina do teólogo grego Eutiques, segundo a qual Jesus tem apenas a natureza divina, a qual anula a sua natureza humana. Mas venceu a doutrina dos teólogos adeptos da tese de que são duas as naturezas de Jesus: a divina e a humana e, portanto, com duas vontades, condenando assim o monotelismo. E a doutrina do monofisismo de Eutiques confirmou-se e é defendida até hoje pelos cristãos da Igreja Armênia, da Igreja Jacobita da Síria e da Igreja Cópita do Egito, com tendência para o monotelismo.

Foi longa a polêmica sobre o monotelismo, que envolveu até concílios ecumênicos e papas, ora contra, ora a favor dele, como aconteceu com o papa Honório e o papa Líbério. Este último teria sido apenas omisso, não condenando com rigor o monotelismo. Mas Libério foi muito elogiado por sua santidade por santo Ambrósio. (Mais detalhes em “Caixa de Perguntas”, de Bertrand L. Conwai. C.S.P., Edição da União Gráfica, Lisboa, 1957, págs. 359 a 364; e no meu livro “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM-Megalivros, SP).

Se a nossa verdade humana é sempre relativa, não podendo ser jamais absoluta, que, pelo menos, ela seja sempre racional e que por si própria se imponha, não precisando ser imposta pela força com a chancela de que se trata de um dogma e que, portanto, não pode ser negado. Muito bem disse Kardec: “A fé só é verdadeira, se ela puder enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da história da humanidade”.

Talvez, caro leitor e cara leitora, vocês digam que essa questão de Jesus ter uma ou duas vontades é irrelevante, com o que concordo. E é por a condenação do monotelismo não ser uma verdade racional que se imponha por si própria, mas porque um grupo de teólogos ortodoxos assim o quis, é que a doutrina das duas vontades de Jesus provocou e ainda provoca tantas polêmicas!

PS: Recomendo “Só de Bichos – Crônicas Divertidas para Quem Ama Animais”, de Laura Medioli e Fernando Fabrinni, Sempre Editora, BH, 2016.

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