JOSÉ REIS CHAVES

Nem muito mel nem muito fel no trato com a Bíblia

Redação O Tempo

Por JOSÉ REIS CHAVES
Publicado em 28 de julho de 2008 | 00:00
 
 

Tenho recebido, de quando em vez, alguns e-mails de conteúdos mais ou menos assim: O sr. ora condena a Bíblia, ora a usa para defender suas idéias. Não seria isso uma incoerência? A Bíblia foi escrita por seres humanos imperfeitos como nem nós. Moisés era até assassino. E será que ele não poderia ter cometido outros erros? Aquela história de que a Bíblia foi inspirada por Deus é relativa.

É verdade que Deus pode permitir que o mundo espiritual nos envie espíritos iluminados para nos iluminar, inspirar e intuir, para que digamos e escrevamos coisas boas e úteis para a nossa evolução espiritual e moral. Mas temos que examinar os espíritos, para não tomarmos gato por lebre! (1 João 4,1).

Os teólogos do passado passaram a ensinar, erroneamente, que anjos são espíritos diferentes dos humanos. Mas os especialistas modernos em angelologia nos mostram que os anjos são mesmo espíritos de natureza humana, apenas de níveis mais avançados de evolução. Esses espíritos humanos angélicos são chamados também, na Bíblia, de deuses e de demônios ("daimones"), que podem ser boníssimos, bons, menos bons, maus e muito maus. E não é apenas o espiritismo - a religião que mais entende de espíritos - que sabe dessas coisas. Lembramos aqui que muitos sabem disso, mas não falam, geralmente porque não podem falar!
E isso é também bíblico. Eis um exemplo: "‘E eu, João, sou aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos pés do anjopara adorá-lo, o qual mas mostrava.’ E ele disse-me: ‘Olha não faças tal; porque eu sou um colega teu e de teus irmãos, os profetas... Adora a Deus’" (Apocalipse 22, 8 a 10). João psicografou o Apocalipse, que lhe foi ditado por um espírito humano, a cujos pés o vidente João se ajoelhou. E o espírito identificado como colega seu e de seus irmãos, os profetas, disse a João que adorasse a Deus e não a ele. A psicografia não é só espírita, mas universal. E, como vimos, é até bíblica.

A Igreja conseguiu trazer isso oculto durante séculos para seus fiéis, e foi seguida por outras igrejas cristãs, porque isso era contra os interesses delas. Mas as religiões, que não aceitarem essas verdades universais dos fenômenos mediúnicos da psicografia, da pintura etc, objeto de estudos, no momento, de numerosas universidades famosas do mundo, vão ficar a ver navios. É como disse o maior Mestre: "Nada ficará oculto". De fato, quem ignora essas coisas está querendo tampar o Sol com a peneira e afastado de Deus, da Igreja e do espiritismo!

E aqui quero aproveitar o ensejo para recomendar aos afeiçoados das obras de Machado de Assis o livro "Memórias Póstumas de Machado de Assis", ditado pelo seu espírito à médium psicógrafa mineira Ismênia dos Santos e catalogado na Câmara Brasileira do Livro, Ed. União Espírita Mineira (UEM), 2008. Reitero aqui o que costumo dizer, ou seja, que não sou inimigo da Igreja e de nenhuma outra religião. Às vezes, até as aplaudo. E digo o mesmo sobre a Bíblia. Só não aceito os seus erros de interpolação, cortes, truncagem, de interpretação, de confundir as leis mosaicas com as divinas e de afirmar que a Bíblia é, "ipsis litteris", a palavra de Deus, o que considero uma superstição.

Essas coisas é que deram o título a esta matéria: "Nada de muito mel nem muito fel no trato com a Bíblia". Respeitemos a Bíblia, mas com moderação, com uma visão racional dela, pois ela é tal como uma rosa que tem pétalas e perfume, mas tem também espinhos, obviamente humanos e não divinos!