Em alguns textos nem sequer a palavra existe, foi colocada

O Espírito Santo dogmático criado pelos teólogos e os dois bíblicos

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 14 de dezembro de 2015 | 03:00
 
 
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Há três Espíritos Santos. O maior e principal é o Deus verdadeiro e único, o que se pode chamar também de o Santo Espírito, que é o Deus Pai ensinado por Jesus. “...Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (João 20: 17); e “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai o agricultor” (João 15: 1); Jesus não é, pois, Deus absoluto, mas apenas relativo ou agricultor de Deus. “O Pai é maior do que eu” (João 14: 28). E eis o que diz são Paulo: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2: 5).

Outro Espírito Santo bíblico é o espírito ou alma que cada um de nós é e que habita e vivifica os nossos corpos físicos. “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do (dum no original) Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6: 19). Ele é semelhante a Deus, pois é também um ser inteligente. É o Atmã dos orientais. E é como se fosse uma extensão de Deus em nós.

E eis o Espírito Santo dogmático (o Rá da mitologia egípcia) criado pelos teólogos. Em sua famosa obra de oito volumes “Sabedoria do Evangelho” (5º vol.), o ex-padre Carlos Torres Pastorino, doutor em Bíblia formado em Roma e professor de grego e latim na UnB, diz que as traduções não foram fiéis aos textos antigos em grego. E é exatamente na questão do Espírito Santo que, de modo sutil, mas muito significativo, os teólogos e tradutores da Bíblia adaptaram-na ao dogma do Espírito Santo da Santíssima Trindade. Eles trocaram o artigo indefinido “um” pelo definido “o” (em grego “tò” e “ho”). Assim, onde no original bíblico se lê “um” espírito santo ou “um” espírito bom, como diz também são Jerônimo na Vulgata Latina, eles traduziram por “o” Espírito Santo e com iniciais maiúsculas, exatamente, para ficar de acordo com o Espírito Santo trinitário da Terceira Pessoa, em grego “tò pneuma hagion” (o Espírito Santo) ou “tò pneuma tò hagion” (o Espírito o Santo), o que foi passado para alguns dos chamados códices (cópias bíblicas posteriores). E um detalhe, a língua grega não tem o artigo indefinido “um”, mas ele tem que aparecer nas traduções para outras línguas em que ele existe. Porém, erradamente, em quase todas as traduções dos textos bíblicos, os tradutores colocaram o artigo definido “o” em vez do indefinido “um” para se entender, como já dissemos, que se trata do Espírito Santo trinitário.

Segundo Pastorino, em alguns textos nem sequer a palavra espírito existe, mas foi colocada neles, também, a expressão “o Espírito Santo” (João 14: 26; e Primeira Carta de João 5:7 e 8). E Pastorino nega igualmente, e de modo contundente, que o Consolador e o Espírito de Verdade sejam o Espírito Santo (João 14: 26). E diz mais Pastorino: No Evangelho de João não há o Espírito Santo e nem sequer a expressão “um espírito santo”, a não ser nos códices (cópias que apareceram mais tarde), do que se suspeita ser uma interpolação (“Sabedoria do Evangelho”, 5º vol., “Pregar sem Medo”).

Lamentamos escrever sobre essas polêmicas cristãs entre a Bíblia e os dogmas. Sim, realmente, é constrangedor para este colunista a abordagem dessas polêmicas, pois não lhe interessa incrementá-las. Mas se sente movido a escrever sobre elas pelo seu grande desejo de divulgar a verdade!

PS: Mais detalhes em meu livro “A Face Oculta das Religiões”, lançado também em inglês nos Estados Unidos pela Outskirts Press, de Denver (Colorado), sendo encontrado também na Amazon.