Jose Reis Chaves

José Reis Chaves é teósofo e biblista e escreve às segundas-feiras

Os espíritos santos bíblicos e o dogmático

Publicado em: Seg, 11/02/19 - 02h00

Já abordamos o assunto desta coluna de hoje em outras colunas. Mas voltamos a ele em atenção aos leitores novatos de O TEMPO e aos que ainda querem um melhor esclarecimento sobre ele.

Primeiramente, lembremos que, na língua grega, em que, geralmente, foi escrito todo o Novo Testamento, não existe o artigo indefinido “um”, mas apenas o definido “ho” (o). E, assim, nas frases em português e outras línguas, em que existe esse artigo indefinido, ele deve ser colocado normalmente nas traduções.

Ademais, se numa tradução, colocarmos o artigo definido “o” antes de um substantivo, onde o correto seria o indefinido “um”, adultera-se o sentido do texto. E foi exatamente esse erro que os tradutores bíblicos para o português e outras línguas cometeram. Eles colocaram o artigo definido “o” no lugar do indefinido “um”. E a consequência principal desse erro está relacionada com o Espírito Santo dogmático da Terceira Pessoa Trinitária. Em vez de “um”, eles colocaram erradamente “o” Espírito Santo, o que confirma o dogma do Espírito Santo da Terceira Pessoa Trinitária, que respeitamos, mas que não é bíblico. Aliás, ele virou dogma justamente porque não é bíblico e, pois, polêmico. São Jerônimo, o primeiro tradutor da Bíblia para o latim, a língua de todo o Império Romano, por volta do ano de 400, na sua tradução “Vulgata Latina”, no lugar de o Espírito Santo, ele colocou um espírito bom (“spiritus bonus”). E um detalhe, o latim, como o grego, não tem o artigo indefinido “um” e, ao contrário do grego, não tem também o definido “o”. Com isso, a coisa se complicou mais ainda. E surge a pergunta: os tradutores se valeram disso para ocultar, conscientemente, seus erros de tradução, ou erraram inconscientemente? Cremos que os dois tipos de erros ocorreram.

Para deixarmos clara essa questão, recorremo-nos ao doutor em bíblia em Roma e professor de grego Carlos Torres Pastorino. Segundo ele, quando se trata do Espírito Santo da Terceira Pessoa Trinitária, é obrigatório o uso do artigo indefinido “um” nos textos bíblicos traduzidos para o português e outras línguas. A exceção é para o Deus Pai da Primeira Pessoa Trinitária, quando se diz corretamente “o Espírito Santo” ou o Santo Espírito. Mas tratando-se da Terceira Pessoa Trinitária, o correto é “um espírito santo”, que é um espírito humano (“Sabedoria do Evangelho”). E isso está de acordo com são Paulo, em 1 Coríntios 6: 19: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus e que não sois de vós mesmos?” E, então, a tradução correta é: Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário “de um” espírito santo (a alma ou centelha divina) que está em vós, o qual tendes da parte de Deus e que não sois de vós mesmos?

Hoje, podemos discordar de um dogma, pois ninguém mais vai morrer na fogueira!

PS: Palestras e seminários espíritas com este colunista: (31) 3373-6870

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