Jose Reis Chaves

José Reis Chaves é teósofo e biblista e escreve às segundas-feiras

Ressurreição e reencarnação na Bíblia não se opõem uma à outra

Publicado em: Seg, 05/11/18 - 03h00

A doutrina espírita não nega a ressurreição, apenas a interpreta de modo diferente. Nega, por exemplo, que ela seja do mesmo corpo, em que o espírito esteve encarnado. Aliás, pela Bíblia e o espiritismo a ressurreição é do espírito e não do corpo. “Semeia-se (enterra-se) corpo natural, ressuscita corpo espiritual” (1 Coríntios 15: 44).

A ressurreição do corpo ou da carne é polêmica, exatamente, porque não é bíblica e pelo que virou dogma! Os espíritas respeitam os dogmas cristãos, somente não creem neles, o que não é estranho, pois, católicos, ortodoxos orientais, protestantes e evangélicos não creem em todos os dogmas.

Vamos ver um texto de Hebreus, em que a reencarnação aparece, se for interpretado de modo espiritual como é, geralmente, na Bíblia. Como se sabe, no Velho Testamento, os sacerdotes descendem de Levi, e são eles que recebem o dízimo. E eis o que diz esse texto de Hebreus, tradução da CNBB, da Bíblia da editora Canção Nova: “Podemos até dizer que, na pessoa de Abraão, aquele que devia receber o dízimo, Levi, entregou o dízimo, pois ele estava no corpo do seu antepassado Abraão, quando Melquisedec veio ao seu encontro” (Hebreus 7: 9 e 10). Nesta passagem, o que se entende, de modo espiritual como foi dito acima é que o espírito de Levi estava encarnado, naquela época, no corpo de seu antepassado Abraão. Mas indo contra o bom senso e a lógica bíblica, alguém pode interpretar que era em sangue que Levi estava no corpo de Abraão, o que deixa dúvida, principalmente, porque, naquele tempo, as pessoas nada entendiam de genética e DNA. Portanto, reiteramos que a interpretação no sentido espiritual, de que o espírito de Levi era o mesmo encarnado em Abraão é mais natural e mais convincente, mesmo porque, também, a ideia da reencarnação aparece em outras passagens da Bíblia.

Vejamos na Bíblia a abordagem de mais assuntos relacionados com a presença nela da ressurreição e da reencarnação, em que, realmente, ambas não se opõem uma à outra, mas pelo contrário, até se confundem. Depois da morte de João Batista: “Alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos; outros: Elias apareceu, e outros: Ressurgiu um dos antigos profetas” (Lucas 9: 7 e 8). Se o povo pensava que Jesus fosse João Batista, ou Elias ou ainda um dos antigos profetas ressuscitados, essas ressurreições em outros corpos são reencarnações. Outra passagem bíblica: “Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus, e disse aos que o serviam: Este é João Batista: ele ressuscitou dos mortos e, por isso, nele operam forças miraculosas” (são Mateus 14: 1 e 2). Os feitos de Jesus chamados na Bíblia de milagres aconteciam na Galileia. João Batista já havia sido degolado por ordem do tetrarca Herodes que dizia que ele, João Batista, ressuscitou dos mortos e fazia todos aqueles prodígios. Para esse Herodes, pois, Jesus seria a ressurreição ou reencarnação do espírito de João Batista. É claro que Herodes estava errado. Mas o que nos interessa é que se ele próprio considerava a ressurreição como reencarnação, é óbvio que, de um modo geral, o povo bíblico judeu, assim também, pensava. E o que essa matéria quer mostrar é justamente que, na Bíblia, ressurreição e reencarnação não são contraditórias, e que vamos encarnando-nos, como diz João (6: 39), até a ressurreição do último dia!

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