Jose Reis Chaves

José Reis Chaves é teósofo e biblista e escreve às segundas-feiras

Como pode Deus gostar de sacrifícios e mortes sangrentas?

Se for a morte de Jesus que nos salva, louvemos seus assassinos

Publicado em: Seg, 24/08/15 - 03h00

O ser apreciador de sangue derramado de vítimas sacrificadas não pode ser o Deus verdadeiro, mas um espírito atrasado. E o que aconteceu com os autores da Bíblia foi que espíritos atrasados apreciadores de sacrifícios sangrentos inspiraram-nos com essas ideias erradas. E, o pior, os autores e os teólogos pensaram que esses espíritos fossem o Espírito do próprio Deus!

Esse erro absurdo é a causa principal de muita descrença. Como pode Deus todo-poderoso, a inteligência suprema e a causa primeira de todas as coisas, na definição dos espíritos de acordo com Kardec, e que é o único ser incontingente, segundo são Tomás de Aquino, gostar de sacrifícios e mortes sangrentas? Que Deus seria esse? “Misericórdia quero, e não sacrifícios” (Mateus 9: 13).

E a ideia errada de que a Bíblia é, literalmente, a palavra de Deus, defendida até hoje por muitos religiosos fundamentalistas, acaba levando muitos de seus seguidores ao materialismo.

Vejamos exemplos de instruções que não são de espíritos enviados de Deus, embora Moisés tenha pensado, erradamente, que tais espíritos fossem até o do próprio Deus: “Agora, pois, matai de entre as crianças todas as do sexo masculino; e matai toda mulher que coabitou com algum homem, deitando-se com ele” (Números 31: 17). “Porém, todas as meninas, e as jovens que não coabitaram com algum homem, deitando-se com ele, deixai-as viver para vós outros” (Números 31: 18); “Samaria levará sobre si a sua culpa, porque se rebelou contra o seu Deus; cairá à espada, seus filhos serão despedaçados, e suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio” (Oseias 13: 16). “Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas” (Levítico 26: 29). “Portanto, os pais comerão a seus filhos no meio de ti, e os filhos comerão a seus pais; executarei em ti juízos, e tudo o que restar de ti espalharei a todos os ventos” (Ezequiel 5: 10).

O Espírito Santo de Deus da Primeira Pessoa da Santíssima Trindade não se rebaixaria a tanto dando ordens tão estranhas a um profeta e fazendo ameaças vingativas e cruéis como as que acabamos de ver. E mesmo sabendo que não as podemos interpretar literalmente, não podemos sequer pensar, nem de longe, em atribuí-las ao Deus verdadeiro ensinado por Jesus que nos trouxe o código de regras morais com as quais, se as seguirmos, poderemos acelerar a nossa evolução espiritual em busca da nossa perfeição e salvação. E se não fosse isso o objetivo de Jesus, então Ele teria perdido o seu tempo em vir aqui como enviado de Deus para trazer-nos o evangelho, o código mais perfeito de moral existente, e até poderíamos, então, rasgá-lo de vez!

Sem chance, pois, a tese teológica de que é o seu sangue derramado na cruz que nos salva, mesmo porque foi mais um grande pecado cometido pelos responsáveis por sua morte. E, realmente, não é a prática do pecado que nos redime, pois até aumenta o nosso carma de sofrimento, mas a prática de boas ações: do amor e da caridade. “(...) O amor cobre multidão de pecados.” (1 Pedro 4: 8). Não é, portanto, a morte de Jesus que nos redime, mas a prática da virtude da caridade e do amor. Aliás, Deus não é um Espírito atrasado vampiro.

E se fosse realmente a morte de Jesus que anulasse nossos pecados, poderíamos e até deveríamos aplaudir seus assassinos, pois eles é que seriam nossos salvadores!

Para perguntas, críticas e sugestões ao programa “Presença Espírita na Bíblia”, apresentado por este colunista na TV Mundo Maior (SP): presenca@tvmundomaior.com.br.

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