JÚLIO ASSIS

Abaporu, versão e fato

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 29 de junho de 2015 | 03:00
 
 
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Uma possível volta para o Brasil da pintura “Abaporu”, um ícone do modernismo brasileiro, de Tarsila do Amaral, que está no acervo do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, o Malba, tem uma versão particular para um guia turístico argentino. O roteiro dele com turistas por Buenos Aires passa primeiro pelo museu e depois pelo Monumento dos Españoles, uma das referências da capital argentina. Frequentemente ele ouve perguntas sobre por que o “Abaporu” não retorna ao Brasil, e responde em tom de brincadeira que é uma retaliação pois ainda não voltou para a Argentina uma das esculturas do monumento, perdidas em naufrágio do navio Príncipe de Asturias, em Ponta da Pirabura, litoral do Estado de São Paulo, em 1916, encontrada na década de 1990 e em poder da Marinha no Rio de Janeiro.

Se essa é versão, que venham os fatos.

O portenho Eduardo Costantini protagonizou há duas décadas uma derrota histórica do Brasil contra a Argentina, ao arrematar por US$ 1,4 milhão o “Abaporu”, que está no Malba. Em entrevista à revista “IstoÉ” de setembro do ano passado, Constantini disse: “Em 1995, eu pude comprar a obra porque não houve proposta brasileira. Em 2011 (quando emprestou o quadro para um evento em Brasília), propus à presidenta Dilma Rousseff que tentasse convocar um grupo de empresários brasileiros para fundar um novo Malba, um segundo museu no Brasil, com o ‘Abaporu’ em seu acervo permanente. Fiquei sem nenhuma resposta. A proposta ainda está de pé”. Ele afirmou ainda que “Muita gente viaja do Brasil e de outros países para Buenos Aires especialmente para ver ou estudar o ‘Abaporu’.”

Já o monumento é outra história. A caminho de Barcelona para Buenos Aires, o navio traria quatro estátuas de bronze e só muitas décadas depois do naufrágio que matou mais de 400 pessoas, apenas uma das obras de arte foi encontrada. Consta que foi criada uma fundação civil na Argentina para obter a escultura. As autoridades brasileiras não se opuseram, mas legalmente isso dependeria de o governo vizinho aceitá-la formalmente, e até agora nenhum dos governos que se seguiram por lá se empenharam no assunto. Um detalhe a se registrar é que, após o naufrágio, foram feitas réplicas das esculturas e instaladas no mesmo local de Buenos Aires que receberia as originais.

Vá saber agora se os argentinos estão cientes do fato ou mais afeitos à versão do guia turístico que, assim, apimenta uma rivalidade histórica. Bobagem, não há motivo para tanto, é apenas uma brincadeira, ele garante.