JÚLIO ASSIS

O homem da gravata lavada (XXVI)

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2009 | 00:00
 
 

Rosinha chegara nova e facilmente a seu intento de seduzir Douglas Oswaldino. Bastou terminar de ler aquele texto de um banho com sabonete perfumado de almíscar e de cravo para que o homem a ela se entregasse.

"Ah! Como são tolos e fáceis esses homens", dizia para si mesma Rosinha, agora já em casa, recordando seu recente encontro. Ela que nesses momentos tinha recaídas e se deparava perdida sobre o desejo de se tornar religiosa após a morte do senador Nabuco de Araújo.

Ali em seu recanto a bela viu se aproximar a criada que anunciava a presença do detetive Norberto Bareta na porta da casa. Ele queria falar com ela. "Falar o quê?", indagou à criada, mesmo sabendo que a serviçal não saberia responder. Rosinha quis não recebê-lo, mandar dizer que estava indisposta, mas, para evitar que dissessem que não estava colaborando com a Justiça, mandou a criada fazê-lo entrar e que a aguardasse na sala.

Bareta já sentia certa impaciência de tanto olhar para aquela pintura na parede, o rosto rechonchudo de um ancestral da família de Rosinha, quando, cerca dez minutos depois, ela apareceu. Demorou de propósito. Após retocar a maquiagem e o penteado, fez uma hora no quarto de puro deboche para com o detetive.

- Boa tarde, senhora!

- Boa tarde, detetive! O que o sr. deseja?

- É que continuamos investigando os assassinatos no Senado e pensei que talvez pudesse nos ajudar.

- Já disse o que eu sabia em meu depoimento ao delegado Rodrigo Pinto. Que aliás, o senhor também acompanhou. Não vejo em que mais poderia ajudar.

- Esse depoimento aconteceu já algumas semanas, foi pouco depois da morte de Nabuco de Araújo, e me ocorreu se depois disso a senhora não teria achado algum documento deixado pelo senador ou correspondência ou algo que ele tenha deixado escrito que a senhora considerasse que poderia nos interessar.

- Não senhor. O que mais tenho procurado é esquecer tudo isso. Estou me interessando por outras coisas, tentando estudar filosofia, buscar outra forma de vida. Mas não é fácil. A toda hora nos chegam notícias podres do Senado. Os senadores vão se superando negativamente. Se meu pai ainda estivesse vivo e na presidência, isso tudo não estaria ocorrendo. Ele não permitiria, era um homem que sabia manter as rédeas de qualquer situação. Veja se deixaria que manifestações populares acontecessem dentro do Senado? Jamais. Mas já que o senhor está aqui, devo perguntá-lo sobre o andamento das investigações.

- E já que a senhora falou de seu saudoso pai, posso lhe confidenciar que um dos principais suspeitos é um cocheiro que primeiro prestava serviços sexuais a senadores e depois passava a extorqui-los. Desculpe-me, mas ocorreram boatos de que Gonçalo Maciel era uma de suas vítimas.

- O senhor disse bem, detetive, boatos. E não acho respeitoso falar assim, desse assunto, comigo.

- Desculpe-me novamente, mas faz parte das nossas investigações para desvendar quem matou seu próprio pai e seu último companheiro.

- Se o senhor não se incomodar, infelizmente não sei como ajudá-lo e estou com dor de cabeça. Preciso descansar.

- Oh! Não quero incomodá-la mais, senhora, só peço que, se achar algo que possa nos ajudar, nos comunique. Como disse é um assunto difícil, mas são duas pessoas do seu convívio que foram assassinadas e precisamos descobrir quem fez isso.

Depois de sair da casa de Rosinha, Norberto Bareta lamentava não ter progredido em nada com aquela visita. Esperava algo mais palpável para encaminhar sua tese de que o cocheiro Fabiano Peluzi era de fato o assassino, mas agira a mando de alguém mais de cima.

Continua no próximo sábado com João Pombo Barile

Fernando Fiuza