Kenio Pereira

Advogado e Diretor Regional da Associação Brasileira de Advogados do Mercado Imobiliário. Mande suas perguntas para duvidas kenio@keniopereiraadvogados.com.br ou telefone (31) 2516-7008. Não é necessário se identificar.

O vício de decidir por intuição

Publicado em: Sex, 18/01/13 - 23h00

 

Ao participar de várias reuniões no decorrer de três décadas de trabalho na área imobiliária, seja como advogado ou como consultor na compra, locação ou em assembleias de condomínio, percebo o vício das pessoas tratarem assuntos de grande complexidade de maneira simplista, sem analisar as reais motivações, particularidades e consequências. 
 
Simplesmente, opinam com base no senso comum, sobre questões que envolvem valores vultosos, relações familiares ou empresariais que deveriam ser preservadas. Com a desculpa da falta de tempo, com uma pressa que beira a irresponsabilidade, aumenta o número de pessoas que decidem sem se importar com eventuais prejuízos, com o agravamento de um conflito ou com a busca de uma alternativa mais adequada para a solução do problema. 
 
Visando economizar, as pessoas desvalorizam o conhecimento especializado, a consultoria isenta de interesse na conclusão do negócio e assim deliberam. Mas quando ocorre o problema, jogam a culpa nos outros ou criam com extrema rapidez e engenhosidade uma desculpa. Assumir o prejuízo, nunca! Fora de cogitação reconhecer que agiu por pura intuição, que não leu o que deveria, e se o fez, não compreendeu o texto e os reflexos por não dominar o assunto. 
 
Assim, rotineiramente, pessoas inteligentes, de sucesso em sua atividade profissional, se arrependem do contrato que fizeram, por não terem refletido sobre as suas cláusulas, feito as contas ou ignorado que deveriam planejar, projetar ou que poderia haver falhas na execução e impontualidade que inviabilizasse o êxito do negócio pretendido. 
 
Da mesma maneira, vejo decisões assembleares inacreditáveis, tomadas de maneira ilógica, contra uma orientação técnica, que acabam gerando mais custos do que o necessário e desgastes entre os condôminos. Nas reuniões sem coordenação de um especialista, o desastre é uma constante, e isso tem se agravado com a nova geração “Dr. Google”, que entende de todos os assuntos, sendo expert no copiar e colar.
 
ORIGEM CULTURAL
 
Ao ler a entrevista do doutor em ciência política, Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura de 1995 a 2002, na “Folha de S. Paulo”, do dia 24/12/12, me chamou atenção a sua declaração: “A capacidade prática deste país de fazer sem saber é enorme. Uma vez conversei com uma figura importante na construção de Brasília. Ele comentava que tinham medo que o lago não enchesse, que as árvores não crescessem. Quase perguntei por que fizeram Brasília aqui. Eles eram de uma grande audácia e de uma enorme ignorância, mas fizeram uma imensa cidade”.
 
É impressionante o vício de pedir desculpa por erros previsíveis, que muitas vezes são apontados por alguém que participa da reunião. Ocorre que muitas vezes essa pessoa é ignorada e os seus argumentos não são registrados na Ata da reunião, com o fim de evitar que fique evidenciado o responsável pela decisão infeliz. 
 
Assim, as decisões tomadas sem o auxílio de um profissional especializado levam ao desperdício de dinheiro público. Lembramos que o ex-governador Newton Cardoso comprou dezenas de trólebus para a linha instalada na av. Cristiano Machado, que nunca funcionou, bem como a loucura de um ex-prefeito que, há dez anos, alargou os passeios nas esquinas e depois desfez tudo, já que as ruas não comportam nem os automóveis. E agora, é inacreditável a criação de ciclovias de mão dupla, nos bairros Funcionários, Lourdes e centro, numa cidade de trânsito caótico e conhecida pelos seus morros, razão que não vemos nenhum ciclista utilizando-as. Até quando a razão e a lógica serão desprezadas e o nosso dinheiro respeitado?

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