LAURA MEDIOLI

Os sem noção

'Inacreditável a falta de responsabilidade, humanidade e noção das pessoas, principalmente nestes tempos de pandemia.'

Por Laura Medioli
Publicado em 30 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
Hélvio/ O Tempo

Existe um ditado que diz que roupa suja se lava em casa, mas é incrível como tem gente que adora levar para as redes sociais sua trouxa, bacia e sabão em pó. 

De vez em quando, elas aparecem expondo desavenças e baixarias com todos os devidos e indevidos pingos nos is, muitas vezes terminando num exaltado barraco virtual. Entre curtidas, carinhas de espanto e comentários polêmicos, as postagens correm soltas. Alguns jogam lenha na fogueira, enquanto outros pedem calma e ponderação. E nós, espectadores dos desequilíbrios alheios, pensamos que a certos internautas falta ajuda psicológica ou noção. Normalmente, os dois. 
 
E fico aqui pensando nos tantos sem noção que no dia a dia dão o ar de sua graça. 
 
Ano dois mil e alguma coisa, praia do litoral baiano, eu, quieta no meu canto lendo um livro, quando, de repente, sob um barulho ensurdecedor, vejo descer, próximo a mim e aos inúmeros banhistas, um helicóptero. Fecho os olhos para me proteger da areia que voava junto com toalhas, guarda-sóis e cangas. Até que, finalmente, veio o silêncio. Estáticos, eu e os da areia, vimos sair de lá de dentro um senhor patético, com seu boné “I love Miami”, com ares de rei da cocada preta, acompanhado de sorridentes criaturas siliconicamente avantajadas. O dono do bar comenta: “Não é a primeira vez que ele faz isso!” Olhando a figura à minha frente, sinceramente, não duvido! Um sem noção, sem educação, sem berço, sem respeito, sem nada! 

Pior foi o pai de um garoto americano, que, para fazer surpresa ao filho aniversariante, resolveu alugar um helicóptero para ir buscá-lo na escola. Final da história: uma dezena de janelas de vidro quebradas, um monte de gente assustada, um diretor indignado e um garoto querendo morrer no dia do próprio aniversário. 

E os sem noção continuam... 

Um casal de jovens, conhecido meu, viajando de carro para Furnas, resolveu dar carona ao amigo que pediu. A ideia era passarem a virada do ano no local. Três dias depois, começaram a perceber a falta de olfato e de paladar, um leve cansaço... Receosos com a possibilidade de terem pegado Covid, resolveram retornar antes mesmo do dia 31. E, de malas prontas, escutam do amigo caroneiro: “Deve ser Covid mesmo! O médico disse que eu devia estar com o vírus... Só que, quando viajamos, o resultado ainda não tinha saído...” 

Antes que a frase terminasse, o casal, indignado, arrancou o carro e saiu. 

Inacreditável a falta de responsabilidade, humanidade e noção das pessoas, principalmente nestes tempos de pandemia. Se o rapaz sabia que podia estar corongado, por que foi pedir carona, numa viagem de horas, sem sequer tocar no assunto? 

Em casa, meus amigos se isolaram por 14 dias, antes ligando para a turma que ficou em Furnas para falar do ocorrido. 

As histórias são muitas, os motivos, os mais diversos, e os sem noção estão aí, à solta. Ou melhor, pelo jeito, não estão nem aí!