Laura Medioli

LAURA MEDIOLI escreve aos sábados. laura@otempo.com.br

Rifas que zurram

Publicado em: Sáb, 04/06/22 - 03h00

Leio na internet sobre o burrinho de nome Walter, criado com três pastores alemães no Arizona, nos EUA. Abandonado por sua mãe ao nascer, fora oferecido a um casal de fazendeiros, que o adotou. Cresceu dentro de casa junto aos cães, com direito a colchão e cobertinhas. Rapidamente se adaptou ao novo lar, pegando inclusive os hábitos caninos de seus companheiros. Quando o dono chega do trabalho, Walter pula de alegria e abana o rabinho, ou melhor, o rabão.

Essa história me fez lembrar o dia em que comprei umas rifas em prol de uma entidade filantrópica. Ao ler o cupom da “Ação entre Amigos”, já fiquei meio assim… “Sorteia-se um burro, 12 meses, filho de jumento pega e égua manga-larga…”. Ao lado das palavras, a foto do próprio, com suas orelhas compridas e olhar simpático.

Pois é. Vai que eu ganho?

Obviamente, meu burro seria bem-vindo e, desde já, comunicado de que jamais seria usado como burro de carga. Não sei o que o destino lhe reservou ou se, alguma vez, em sua pouca idade, teve a infelicidade de usar correias, amarras e toda aquela parafernália utilizada em uma carroça.

Acredito que não, pois a entidade a ser beneficiada trabalhava com projetos de equoterapia e, assim como eu, não enxergaria no burro um carregador de entulhos. Por se tratar de um animal dócil, serviria às crianças com algum tipo de deficiência, já que a terapia equina vem obtendo ótimos resultados.

Se me ligassem comunicando que era eu a sorteada, teria que pensar no que fazer com ele – colocá-lo próximo a minhas galinhas felizes, já que tinha um galinheiro com 20 galinhas, terminantemente proibidas de virar comida?

E os cachorros? Constantemente estão caçando encrencas com gatos vizinhos, gambás noturnos e pombas que, porventura, vêm parar no jardim. Como explicar a eles a vinda desse novo ser, enorme, orelhudo, que zurra e ainda por cima dá coices? Afinal, não era tão filhote quanto o burro Walter, que rapidamente fora acolhido pelos cães.

Antes que eu fosse pega de surpresa, solicitei ao “doutor Google” algumas informações básicas e fui prontamente atendida:

Reino: Animalia; Filo: Chordata; Classe: Mammalia;

Ordem: Perissodactyla; Família: Equidae;

Gênero: Equus; Espécie: Equus asinus x Equus cabalus.

Hum… então tá.

E continuei minha pesquisa: “Burro é o nome dado ao filhote macho do cruzamento entre o jumento, também chamado de ‘asno’ ou ‘jegue’, com a égua, ou cavalo fêmea. Quando se trata de uma fêmea resultante desse cruzamento, falamos em mula. Como são indivíduos resultantes do cruzamento entre espécies com número de cromossomos diferentes, burros e mulas tendem a nascer estéreis”.

Hum… sei.

Pelo que entendi, então, meu burro não poderia namorar com a mula, pois ambos não conseguiam cruzar – quer dizer, talvez sim, só não daria pra fazerem burrinhos ou mulinhas por aí.

E continuei tentando compreender esse imbróglio. Segundo o “doutor Google”, “os burros se apresentam mais parecidos com os cavalos do que com os jumentos”. E eu achando que burro e jumento fossem a mesma coisa. Mas deixa pra lá, tanto faz, já que não tenho a menor intenção de criar jumentos, mulas, jegues, asnos ou cavalos em casa. Apenas o burro – caso eu seja a sorteada, claro!

“Sua longevidade permite-lhes trabalhar por mais de 35 anos, e apresentam inteligência superior à de seus primos, os cavalos”.

Opa! Se os bichos são tão inteligentes assim, por que os seres desprovidos de Q.I. são chamados de “burros”?

Se eu tivesse que escolher um nome para ele, nada de Mimoso, Bombom, Loirinho ou algo que deprecie sua condição de burro, tipo “seu burrinho!”. Seu nome deveria ter personalidade, postura, presença! Pois, como já sabemos, burros são inteligentes pra burro!

 

Enfim, não fui a sorteada. Menos mal. Pro meu burro virar “cachorro”, seria um passo, igual a égua Rebeca, que nasceu em minha antiga casa. Vivia na sala, derrubando os enfeites da mesa (quando não derrubava a mesa) e atacando de surpresa os nossos pratos. Naturalmente, sem a menooooor noção de que havia crescido e que salas e cozinhas não eram os lugares mais adequados para éguas. 

Espero que o burro da rifa tenha encontrado um bom lar, cheio de capim e crianças a paparicá-lo. E que jamais venha a trabalhar com carroças, felizmente, uma situação com prazo de validade, graças às novas normas e leis de proteção animal que vêm ocorrendo no país. 
Aproveito para lembrar que, graças à Lei Sansão, feita pelo deputado federal Fred Costa, um dos maiores representantes da causa animal que conhecemos, maltratar animais é crime, inclusive com pena de dois a cinco anos de prisão para quem cometer esse tipo de covardia. E que venham outras leis!!!