LAURA MEDIOLI

Tambores vazios

Sob a lente de quem já passou dos 50, me atrai a beleza da simplicidade

Por Laura Medioli
Publicado em 27 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
Acir Galvão

Vejo no Instagram as fotos de uma conhecida, moça rica de São Paulo, na faixa dos 30. A menina é linda, tem um corpo escultural, suas fotos são produzidas, tudo milimetricamente estudado. Um olhar sem profundidade, quase de boneca de louça. 

Sabendo que ela não é modelo nem trabalha com blogs, me pergunto que geração é esta, acrescentando aí as adolescentes que, numa overdose narcisista, se mostram em poses, sensuais ou não, com as lentes sempre voltadas para si mesmas. Sorrisos ensaiados, tomando drinks coloridos, focadas exclusivamente no “eu”.

Sob a lente de quem já passou dos 50, me atrai a beleza da simplicidade: flores com suas cores e delicadezas; sorrisos espontâneos de amigos; animais com olhares que transmitem sentimentos; imagens que nos fazem rir ou ficar com nó na garganta.

Mas o que encontramos no ambiente virtual, e fora dele, é um mundo egocêntrico onde não há muita preocupação com o conteúdo. Um mundo cheio de futilidades, ostentações e até promiscuidades.

Li nas redes sociais e, imaginando se tratar de um fake, fui conferir no Google. E era verdade: a cantora Anitta, sem ter mais o que inventar, tatuou uma flor na vagina e, pasmem, a frase “I luv u” no ânus. Anh??? Segundo ela, decidiu tatuar o local por falta de espaço em outros lugares do corpo. Hum... Então, tá.

Cantos e danças esquisitas, quase pornográficas, fazem sucesso, mesmo que em bailes clandestinos, em tempos de pandemia. E a garotada imita, como se fosse um desfile em que os seios e os quadris são os únicos protagonistas.

Sou da época em que, além de outros ritmos, também se dançava junto, rostos próximos, falas mansas que nos faziam apaixonar e pisar desajeitadas no pé do companheiro. Isso quando não comprávamos o disco para ouvir depois, até o vinil furar. Mas deixa pra lá, outros tempos.

Chegamos ao ponto de encontrar em escolas públicas um livro aprovado pelo MEC que, graças às reclamações dos pais, foi retirado de circulação. O personagem, um rei de histórias encantadas, se apaixona pela filha e a pede em casamento. A mãe, segundo o soberano, passaria a ser a criada de ambos.

Gente, me poupe!

O negócio anda tão desvirtuado que um que se julga esperto diz: “Nós queremos é ser felizes, nos arranjar, não importa o preço a ser pago”. Com essa alucinação que vem se alastrando, multiplicam-se os exemplos ruins que descarregam nos jovens; confrontos sem discernimento, sem bom senso; o negócio é se impor, não pela inteligência, mas pela falta dela. Como diz o ditado: “Tambores vazios são os que mais fazem barulho”. E como fazem! Credo!!!