Laura Medioli

LAURA MEDIOLI escreve aos sábados. laura@otempo.com.br

Uma religião chamada Amor

Publicado em: Dom, 08/07/18 - 04h30

No último dia 30, completaram-se 16 anos da morte de Chico Xavier.
Nunca me esqueci da noite passada em Uberaba, quando eu, com 18 anos, me vi equilibrando no alto de uma janela. Eu e uma multidão que foi àquela cidade para vê-lo psicografando, em estado mediúnico.

O guarda me tirava, e eu voltava correndo até, finalmente, conseguir adentrar na sala apinhada. A emoção era tanta que nem sequer piscava os olhos, sabia que estava diante de uma pessoa ímpar.

Lembro-me da casa simples, da mesa de madeira em que ele, com a cabeça abaixada e os olhos cerrados, psicografava mensagens daqueles que já se foram, dirigidas a parentes e entes queridos ali presentes. Imagino quanto conforto essas mensagens pessoais e detalhadas traziam a essa gente.

Nesse dia, adquiri vários dos seus livros, entre os mais de 400 que já psicografou e cujos direitos autorais eram e continuam sendo doados a obras assistenciais.

Na manhã seguinte, acordei cedo para acompanhá-lo a uma peregrinação por bairros pobres da cidade. Humilde, caladinho, com uns óculos enormes e pesados, repartia mantimentos e sorrisos tímidos. Voltei para casa com a certeza de ter visto uma pessoa verdadeiramente do bem, nascida para distribuir amor. Um “anjo” que ainda hoje, por meio de suas mensagens, acompanha e dá conforto a tantos.

Ao ler sua biografia, descobri que seu primeiro contato com a doutrina espírita foi em 1927. Quando criança, costumava ouvir vozes ou sentir mãos sobre as suas, guiando suas escritas. Menino, não compreendia como sua mãe, já falecida, continuava a lhe aparecer, principalmente nos momentos de aflição.

Chico Xavier, com certeza o maior médium que já tivemos, certa ocasião, disse: “Nunca quis mudar a religião de ninguém, porque não acredito que a religião ‘a’ seja melhor que a religião ‘b’. Nas origens de toda religião cristã está o pensamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se Allan Kardec tivesse escrito que ‘fora do espiritismo não há salvação’, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu ‘fora da Caridade’, ou seja, fora do Amor não há salvação...”

Admiro e me identifico com a doutrina kardecista. Ouvir sobre o Evangelho ou tomar um passe são coisas que me trazem conforto, assim como comungar numa igreja católica ou participar de um encontro na Sociedade Teosófica (que não diz respeito a uma religião específica, mas à Verdade de todas).

Estar num templo hinduísta na Índia, ao som de um mantra, é fascinante. O budismo, para muitos, é quase uma filosofia de vida. Nunca entrei numa sinagoga, mas sei da profundidade da cabala. Na minha última viagem à Turquia, orei sob os imensos pilares da Mesquita Azul, com os pés descalços e a cabeça coberta por um véu. Admiro os evangélicos pela sua fé e pelo papel social que exercem nos aglomerados das cidades. Deus é igual para todos, não importa a que religiões pertençam.

Para finalizar, transcrevo uma das inúmeras manifestações escritas que Chico nos delegou: “Vida É o amor existencial. Razão É o amor que pondera. Estudo É o amor que analisa. Ciência É o amor que investiga. Filosofia É o amor que pensa. Religião É o amor que busca a Deus. Verdade É o amor que eterniza. Ideal É o amor que se eleva. Fé É o amor que transcende. Esperança É o amor que sonha. Caridade É o amor que auxilia. Fraternidade É o amor que se expande. Sacrifício É o amor que se esforça. Renúncia É o amor que depura. Simpatia É o amor que sorri. Trabalho É o amor que constrói. Indiferença É o amor que se esconde. Desespero É o amor que se desgoverna. Paixão É o amor que se desequilibra. Ciúme É o amor que se desvaira. Orgulho É o amor que enlouquece. Sensualismo É o amor que se envenena. Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente”.

Lindo, não?