Laura Medioli

LAURA MEDIOLI escreve aos sábados. laura@otempo.com.br

Voos inusitados

Publicado em: Dom, 28/01/18 - 03h00

Certa vez, li no Super Notícia que uma vaca havia caído sobre o telhado de uma casa. Notícia tão bizarra como a foto que a acompanhou. Fiquei com muita pena dela e imagino o susto dos moradores que, às três da madrugada, acordaram com o barulho. Até entenderem o ocorrido, já era de manhã, quando, encabuladíssimos, encontraram-na presa entre telhas e lajes.

A explicação para o episódio é a localização da residência – logo abaixo de um barranco. Ela escorregou, e o resto já dá para imaginar.

Se para tirar uma vaca de dentro de uma piscina foi uma complicação, de cima de um telhado é quase uma missão impossível. Falo da vaca na piscina porque o fato ocorreu na minha antiga casa, quando ainda era menina.

Minha mãe, olhando da varanda, percebeu um estranho movimento no gramado. Intrigada, chamou meu pai para ver. Ele, surpreso, contou que meia dúzia de vacas comia as flores do jardim.

– Vacas? – assustou-se minha mãe – Como assim?

Não tínhamos ideia de onde elas haviam surgido, e o susto foi ainda maior quando encontramos uma delas se refrescando na piscina.

Para tirar a vaca dali, seria necessário um empenho e tanto – empenho que, naturalmente, não nos caberia. E, assim, aguardamos ansiosos pela chegada dos bombeiros.

Meia dúzia de homens, cordas, muitos gritos e plateia. Final da história: uma vaca apavorada, com o intestino desarranjado, que insistia em não sair. Um desastre! 

– Credo! Nunca mais nado aqui! – dizia uma prima cheia de melindres. 

– Vamos ter que esvaziar tudo! – reclamava meu pai.

E eu, achando graça, registrei o fato na memória – histórias assim nunca serão esquecidas.

E foi no Super Notícia dessa semana que li a notícia de que um jumento caiu numa cozinha, após subir no telhado. O fato rapidamente viralizou nas redes sociais. Após ficar pendurado na madeira, se debateu até cair no chão. Felizmente, saiu ileso e caminhando normalmente.

Segundo consta, a residência fica ao lado de uma área acidentada, onde o animal estava, e o jumento não teve muita dificuldade para subir no telhado.

Após ler essas notícias, não poderia deixar de citar o dia em que um caminhão “sobrevoou” uma casa – notícia que mereceu destaque na capa do jornal O TEMPO e críticas ferrenhas de um leitor de mal com a vida, de quem, fielmente, reproduzo a conversa telefônica que teve conosco. 

– Escuta aqui, minha filha, caminhão tem asas? 

– Como, senhor? – pergunta, surpreendida, a repórter que atendeu a ligação. 

– Eu estou perguntando se caminhão tem asas, porque vocês colocaram na capa do jornal que um caminhão, ao cair de um barranco, “sobrevoou” uma casa...

– Ah...

– E então? 

– Então?... O quê? 

– Não vai dizer nada? Cadê o “Aurélio”? 

- O Aurélio foi almoçar, senhor, mas não deve demorar. 

- Ô sua ignorante, estou falando é do dicionário...

E “tum”. Na cara dela.

Por aquelas coincidências, o editor responsável pela matéria também se chamava Aurélio. Só sei que, depois disso, nossos caminhões nunca mais “sobrevoaram” nada.