Leandro Cabido

Comentarista esportivo da rádio Super Notícia 91,7 FM, escreve sempre às quintas-feiras

Regras não vão melhorar nossos treinadores

Publicado em: Ter, 26/02/19 - 03h00

Quando eu acredito que a CBF está dando passos importantes para melhorar nosso principal campeonato nacional, eis que vejo com muita preocupação a tal necessidade de a entidade interferir diretamente nas decisões dos clubes, como na quantidade de treinadores ao longo da competição.

Por que as equipes precisam desse tipo de regulação se a própria confederação e as federações estaduais são os principais causadores de problemas nesse sentido? Existe um crítico calendário no Brasil que atrapalha não só o andamento do trabalho de quem está empregado, mas também o desenvolvimento de quem quer entrar no mercado.

Os novos treinadores não têm espaço porque simplesmente não existem jogos. Os tais times de aluguel – já que temos torneios regionais muito curtos no nosso país – são desmontados pela falta de compromisso no restante da temporada.

É um contraste sem tamanho, tendo em vista que os gigantes fazem em média 70 partidas por ano. Nesse caso, os técnicos não treinam porque simplesmente não conseguem. Sobressaem sempre aqueles com maior poder de investimento, que podem montar dois times e promover um rodízio entre os atletas.

Os clubes que não conseguem resultados são obrigados a demitir em função da pressão e acabam contratando outro técnico, provavelmente experiente, que possa entregar algo menos pior do que o antecessor ou evitar uma crise maior. Porém, é um direito do clube fazer isso, mesmo sendo um círculo vicioso.

Se a CBF quer melhorar esse aspecto, que comece se organizando para diminuir os absurdos que vemos todos os anos, com equipes jogando quase todas as semanas ao menos duas vezes. Daí, podemos avaliar a qualidade de nosso corpo técnico.

Eu vejo com alguma estranheza algumas situações que não nos deixam evoluir. Uma delas é a ausência de comando estrangeiro. Quando tentamos algo, deu errado. Por isso, é de se louvar que o Santos tenha pensando no argentino Jorge Sampaoli. O intercâmbio de conhecimento é obrigatório para qualquer evolução.

Outro fator é a completa ausência de treinadores brasileiros nos grandes clubes europeus, e nem sequer há uma tentativa. Vemos chilenos e argentinos, mas nada do maior campeão mundial.

Para o primeiro questionamento, os fatores mais óbvios são arrogância – por ainda pensarmos que somos os melhores – e tradicionalismo, inclusive na seleção brasileira, que impedem que possamos aprender com alguns dos mais renomados do mundo. No caso do segundo, bem, talvez nossos comandantes sejam de uma prateleira inferior mesmo.

Por isso, os cursos de capacitação são interessantes, e, se começarem a seguir os modelos da Uefa, vamos ter resultados interessantes no futuro.

No entanto, enquanto não dermos espaço para os técnicos se aprofundarem, não vamos ter qualquer chance na evolução do nosso Brasileirão, que é, sem dúvida, a grande vitrine para mostrar que também somos capazes de enxergar o esporte de maneira científica.

Não será criando regras que conseguiremos melhorar. Apoiar o trabalho de longo prazo é louvável, mas cada situação é determinante e particular. Que possamos aprender.

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