Crítica ao velho modelo busca uma saída de onde e para onde

A Igreja que quer uma ruptura com o antigo estado de coisas

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 03 de julho de 2015 | 03:15
 
 
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Celebrando ainda a extraordinária encíclica sobre o cuidado da casa comum, voltamos a refletir uma perspectiva importante do papa Francisco: “uma Igreja em saída”. Essa formulação encerra uma velada crítica ao modelo anterior de Igreja, que era “sem saída” devido aos diversos escândalos de ordem moral e financeira, o que forçou o papa Bento XVI a renunciar, perdendo seu melhor capital: a moralidade e a credibilidade.

Mas o slogan “Igreja em saída” possui um significado mais profundo, tornado possível porque veio de um papa fora dos quadros institucionais da velha e cansada cristandade europeia. A “Igreja em saída” quer marcar uma ruptura com aquele estado de coisas. E então se coloca a pergunta: saída de onde e para onde?

1) Saída de uma Igreja-fortaleza, que protegia os fiéis contra as liberdades modernas, para uma Igreja-hospital de campanha, que atende à toda pessoa que a procura.

2) Saída de uma Igreja-instituição absolutista para uma Igreja-movimento, aberta ao diálogo universal.

3) Saída de uma Igreja-hierarquia para uma Igreja-povo de Deus, fazendo de todos irmãos e irmãs.

4) Saída de uma Igreja-autoridade eclesiástica, distanciada dos fiéis, para uma Igreja-pastor, que anda no meio do povo.

5) Saída de uma Igreja-papa que governa com o rígido direito canônico para uma Igreja-bispo de Roma, que preside na caridade e só a partir daí se faz papa da Igreja universal.

6) Saída de uma Igreja-mestra de doutrinas e normas para uma Igreja de práticas surpreendentes e do encontro afetuoso com as pessoas.

7) Saída de uma Igreja de pompa e circunstância para uma Igreja-pobre e para os pobres.

8) Saída da Igreja que fala dos pobres para uma Igreja que vai aos pobres.

9) Saída de uma Igreja equidistante dos sistemas políticos e econômicos para uma Igreja que toma partido em favor das vítimas e que chama pelo nome os produtores das injustiças.

10) Saída de uma Igreja automagnificadora e acrítica para uma Igreja da verdade sobre si mesma.

11) Saída de uma Igreja da ordem e do rigorismo para uma Igreja da revolução da ternura, da misericórdia e do cuidado.

12) Saída de uma Igreja de devotos para uma Igreja-compromisso com a justiça social e com a libertação dos oprimidos.

13) Saída de uma Igreja-obediência para uma Igreja-alegria.

14) Saída de uma Igreja sem o mundo para uma Igreja-mundo, sensível ao problema da ecologia.

Essas e outras saídas mostram que a Igreja não se reduz apenas a uma missão religiosa, acantonada numa parte privada da realidade. Ela possui, além disso, uma missão político-social no sentido maior dessa palavra, como fonte de inspiração para as transformações necessárias que resgatem a humanidade para um tipo de civilização do amor e da compaixão, que seja menos individualista, materialista, cínica e destituída de solidariedade.

Essa “Igreja em saída” devolveu alegria e esperança aos cristãos e reconquistou o sentimento de ser um lar espiritual. Granjeou pela simplicidade, com despojamento, e acolhida no amor e na ternura, a estima de muitas pessoas de outras confissões ou de simples cidadãos do mundo e mesmo de chefes de Estado que admiram a figura e as práticas surpreendentes do papa Francisco.

Mais que doutrinas e dogmas, é a tradição de Jesus, feita de amor incondicional, de misericórdia e de compaixão que por ele se atualiza e revela sua inesgotável energia humanizadora.