LEONARDO BOFF

A tentativa de condenação de um homem justo: Gilberto Carvalho

Como Lula, ele está sendo acusado de ter recebido propina

Por Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2017 | 04:40
 
 
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No dia 19 de setembro, o juiz Vallisney Oliveira acatou a denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Lula e Gilberto Carvalho por ver indícios de corrupção passiva na alegação de que teriam recebido uma propina de R$ 6 milhões para o PT com a reedição da Medida Provisória 471, de 2009, que estendia benefícios fiscais a montadoras do setor automobilístico no Centro-Oeste e no Nordeste.

Curiosamente, essa medida provisória tem como autor o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ela foi aprovada por todos os partidos. O sentido dela era descentralizar a produção de automóveis e criar um grande número de empregos. Efetivamente, em 2002 e 2013, o número de postos de trabalho passou de 291.244 para 532.364.

A prorrogação da MP 471 por Lula tinha o sentido de garantir a continuidade dos empreendimentos que beneficiavam tantos trabalhadores. Nada foi pedido e dado em troca. A acusação do MPF de propina não apresentou provas, apenas indícios e ilações.

Não tomo a defesa do ex-presidente Lula porque advogados competentes o farão. Restrinjo-me a um testemunho de Gilberto Carvalho. Conhecemo-nos há muitos anos, no trabalho com as comunidades de base na Pastoral Operária, nos estudos de teologia em Curitiba, e nos encontros de fé e política. Morou numa favela muito pobre da cidade, trabalhou depois numa fábrica de plástico e numa metalúrgica. Há cerca de 30 anos, firmou com Lula uma amizade de irmãos. Ajudou a fundar o PT. Eleito presidente, Lula o fez, nos dois mandatos, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. No cargo, sempre mostrou discrição e grande sentido de equidade. Notabilizou-se por ser o interlocutor mais bem aceito pelos movimentos sociais, com a Igreja Católica e com outros segmentos religiosos. Carinho especial dedicava aos catadores de material reciclável e aos indígenas.

Todos o conhecem por sua serenidade e incansável capacidade de escutar e de buscar, junto com outros, os caminhos mais viáveis. Nós, que o conhecemos de perto, testemunhamos com sinceridade o alto apreço que confere ao mundo espiritual. Sempre foi um homem pobre. Comprou um pequeno sítio perto de Brasília com o resultado da venda de um apartamento que possuía em São Paulo. Nunca se aproveitou do alto cargo de ocupou na República.

Por isso, entendemos sua “revolta e indignação” contra a absurda denúncia feita pelo MPF e acatada pelo juiz federal Vallisney Oliveira, de Brasília. Em sua nota de 19 de setembro, Carvalho escreveu: “É importante grifar que não existe nenhuma base de provas, e sim ilações e interpretações forçadas de fatos... Nem o presidente Lula nem eu tivemos qualquer aproximação com este tipo de má conduta com a qual querem nos estigmatizar”.

Talvez o tópico final de sua nota diga muito de sua personalidade, na qual vemos sinais de virtudes humanas em grau eminente: “Recebo esta denúncia no exato momento em que fui obrigado a vender o apartamento em que vivia, que recentemente havia adquirido, por não conseguir pagar o financiamento. Desde então, passo a morar em casa alugada. Portanto, não são acusações dessa natureza que vão tirar minha honra e dignidade de uma consciência serena e sem medos”.

As Escrituras, com frequência, invectivam juízes que, açodadamente, levantam suspeitas sobre os justos, quando não os condenam. Em Brasília, se elabora uma tentativa malévola de condenar um homem justo.