LOHANNA LIMA

A trilha e o choro de Maria Sharapova

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2017 | 03:00
 
 

“Esta é a minha canção de luta, leve de volta a minha canção de vida. Ela prova que eu estou bem, meu poder está ligado a ela. A partir de agora, eu vou ser forte, eu vou tocar a minha canção de luta e eu realmente não me importo se ninguém acredita”. Foi assim, ao som de Rachel Platten, intérprete da música “Canção de Luta”, que a russa Maria Sharapova chorou, copiosamente, após derrotar a número dois do mundo, Simone Halep, na última segunda-feira, no Aberto dos Estados Unidos – o último Grand Slam do ano. A vitória marcou o retorno da tenista – até então na 148ª colocação no ranking da WTA – a um torneio de grande porte, para o descontentamento de boa parte de seus colegas e de autoridades do mundo do tênis.

Para entendermos o contexto da volta de Sharapova ao Aberto dos Estados Unidos, temos que voltar um pouco no tempo, mais precisamente a março de 2016, quando a ex-número 1 do mundo convocou uma coletiva de imprensa para informar que havia caído no exame antidopping por uso da substância meldonium, presente em um medicamento que ela tomava há mais de dez anos. A substância entrou na lista de proibição, que não foi conferida pela tenista. Por isso, ela assumiu a culpa publicamente e foi suspensa por 15 meses.

A história do dopping de Sharapova causa uma desconfortável divisão no mundo do tênis. Há quem acredite no fato de que ela realmente não conferiu a lista – o que de qualquer forma caracteriza, pelo menos, negligência; e há aqueles que sempre foram mais duros nas críticas, questionando até a veracidade das explicações da russa.

Não é segredo que Sharapova coleciona alguns desafetos no mundo tênis, principalmente no circuito feminino, tendo declarado, publicamente, que não tem amigos no ambiente esportivo. A grande crítica, liderada por algumas tenistas como a polonesa Agnieszka Radwanska, a dinamarquesa Caroline Wozniacki e a eslovaca Dominika Cibulkova, é pelo fato de Sharapova ter recebido convites para voltar às quadras e não ter participado de torneios qualificatórios, como as demais atletas que pleiteavam uma vaga no Aberto dos Estados Unidos.

Midiática e tida como a atleta mais bem-paga do mundo por 11 anos, a presença de Sharapova em qualquer torneio é garantia de visibilidade e de venda, motivo pelo qual as críticas se tornam ainda mais contundentes.

É indiscutível que Maria Sharapova vende e atrai publicidade por onde passa. No entanto, não se pode resumir seu retorno apenas a isso. Dona de cinco Grand Slams e ex-número 1 do mundo, ela não só fez história, como contribuiu bastante com a modalidade – e é aí que entra o grande questionamento: Sharapova vem tendo um tratamento diferente pelo respeito que conquistou ou por que traz visibilidade e dinheiro (e é isso que importa no fim das contas)? Partindo do princípio de que nada deve ser mais duro para um atleta do que ser suspenso por dopping, ainda mais como no caso de Sharapova, sou suspeita para ir contra a presença dela no US Open. Por tudo que Sharapova representa, é bonito vê-la de volta ao circuito, ainda que justo ou não seu retorno.