Lohanna Lima

Mineira, jornalista, repórter do Super FC e da Rádio Super Notícia FM, escreve quinzenalmente às quintas-feiras

Uma vitória para as mulheres sauditas

Publicado em: Qui, 18/01/18 - 02h00

O dia 12 de janeiro vai ficar marcado para sempre no coração das mulheres apaixonadas por futebol da Arábia Saudita. Misturando véus e cachecóis, elas estiveram em um estádio de futebol pela primeira vez, após garantirem o direito de acessar as arquibancadas no país, rompendo um dos grandes paradigmas da sociedade muçulmana: a proibição das mulheres nos estádios locais.

É até difícil de acreditar, mas a presença de uma mulher na arquibancada é passível de prisão em diversos países islâmicos. Para tentar driblar a proibição, muitas delas buscam acessar os estádios vestidas com roupas masculinas, correndo o risco de serem descobertas e levadas à prisão – casos que, inclusive, já aconteceram no país.

A liberação das mulheres para frequentar os estádios no país me fez voltar no tempo e recordar minha primeira vez em um jogo de futebol. Meu pai e eu torcemos para times diferentes, mas, ainda assim, ele foi o responsável por me levar ao campo pela primeira vez. Sempre preocupado com minha segurança, era difícil cogitar a ideia de ir a um jogo de futebol sozinha ou apenas com os amigos. Camuflado em uma torcida que não era a do time dele, ele me levou para ver um dos grandes clássicos do futebol brasileiro, com uma presença de público incrível e que ficará marcada pra sempre em minha memória.

OBrasil não proíbe as mulheres de irem ao estádio, mas, há alguns anos, muitas delas evitavam de ir ao campo sozinhas ou sem uma presença masculina. Hoje, no entanto, é comum vê-las em grupos femininos, o que mostra que a presença das mulheres, apesar de ainda ser menor do que a dos homens, há um bom tempo é tratada com naturalidade.

Voltando à Arábia Saudita, fica mais compreensível de entender o porquê de a proibição ter demorado tanto tempo para acabar se analisarmos o problema de igualdade de gênero que as mulheres enfrentam no país. De 145 nações estudadas pelo Fórum Econômico Mundial, a Arábia Saudita ocupa o 134º lugar, sendo um dos que têm menor igualdade entre homens e mulheres no mundo.

A nova realidade da Arábia Saudita nessa questão, no entanto, ainda é diferente do que vemos no Brasil e nos demais estádios do mundo. Para assistir aos jogos, as mulheres ocupam setores especiais, que foram criados justamente para atender as novas medidas. Assim, elas estiveram presentes no jogo entre Al-Ahli e Al-Batin, no estádio Rei Abdullah, ao lado dos maridos e dos filhos, em um espaço considerado “familiar”.

As agências internacionais e a própria imprensa local deram destaque à presença das mulheres na partida. Abordadas pelos veículos, elas denominavam o dia como “histórico” e se diziam orgulhosas pela conquista.

Há anos as mulheres iranianas lutam para ter o direito de acessar os estádios também. Com a queda da proibição na Arábia, é inevitável pensar e torcer para que o mesmo ocorra nos países vizinhos. Que nenhuma mulher, em lugar nenhum do mundo, deixe de ser quem é em busca de aceitação ou inclusão – não só no futebol, mas em qualquer esfera. Para abrir 2018, esse é o meu desejo mais sincero. 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.