LUCAS SIMÕES

Hoje é dia de maldade

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2016 | 03:00
 
 

É dia de engolir o banquete pão e circo do presidente, ficar muito louco com duas décadas de retrocesso à base de vinho, salmão e risoto. Hoje é dia de parar a realidade um instante, ouvir a repórter da GloboNews mandar para puta que o pariu o Donald Trump.

Hoje é dia de cerveja barata, fumar até o filtro do San Marino, esperar o meteoro chegar num thriller a sangue frio do Al Pacino. Hoje é dia de abstrair, implorar a saideira quantas vezes for preciso para não partir.

Hoje é dia de carão e calcinha no chão. É dia de boy magia na pista, dia de transar com todo mundo, menos com fascista.

Hoje é dia de déjà vu, não entendi, tanto faz. Arrepio estranho dizendo que fomos passados para trás. É dia de hastear as bandeiras, apurar os ouvidos e não duvidar de conchavo nem entre Jesus e Satanás.

Hoje é dia de karaokê, alcançar o nirvana, dia de misturar na ponta da língua “Evidências”, Britney e Legião Urbana. Hoje é dia de esquecer a teoria, é dia do Bob Dylan irritar a academia com a sua poesia.

Hoje é dia de chorar o desengano, acreditar no Darcy Ribeiro ou em outro plano. E tomar rasteira de afronta, esculhambado pelas tretas escusas que nenhum pensamento de bem parece dar conta.

Hoje é dia de deixar as panelas no armário, passar vergonha calado, pagar de otário. É dia até de bolsominion cobrar postura do Bolsonaro – bateu uma onda forte em um por um, agilidade da PEC 241.

Hoje é dia do podia ser a gente, qualquer hora, mas você não colabora. Hoje é dia de sair, tomar banho e desistir. É dia de ficar de castigo, ouvir o próprio ruído.

Hoje só parece mais um dia a ser vencido, mas hoje é dia de maldade. É dia de parar a cidade, clima habitual em Brasília com afagos e discursos dúbios sobre as mesmas meias verdades. Hoje é dia de lembrar que o Brasil é o absurdo provável, muito além daquele jeitinho inacreditável.

Hoje é dia de botar fé sem força ou foco maior, dia de rezar baixinho pelos que estão sós, dia de sair da igreja e esquecer de todos que sentimos dó.

Hoje é dia de cair na real e assumir de vez o Belchior: “Tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado. E assim já não posso sofrer no ano passado”.