Luiz Cabral Inacio

LUIZ CABRAL escreve na revista SuperTV às quintas-feiras. luizcabral@supernoticia.com.br

Gracias, Chespirito!

Publicado em: Qui, 04/12/14 - 03h00

Eu cresci, mesmo que “sem querer, querendo”, gostando muito dele. Achava graça em tudo o que ele fazia, desde quando ele caçava lagartixas, entrava chorando em seu barril na vila ou implorava por um sanduíche de presunto, um churro ou um suco de tamarindo. “Isso, isso, isso”, assim foi a minha infância, adolescência e até boa parte da minha fase adulta. Era (e ainda sou) viciado nos personagens Chaves e Chapolin Colorado, e só tenho a agradecer ao mestre do humor simples, inocente e sincero Roberto Gómez Bolaños, que partiu na última semana, mas que sempre nos deixou claro que “preferiria morrer do que perder a vida”.


Na sala de TV, todo dia, minha mãe, Iêda, sempre acompanhava minha irmã Daniele e a mim vendo e rindo com aqueles episódios repetidos no SBT. Mas, “suspeitando desde o princípio”, ele nunca foi uma unanimidade. Meu pai nunca “teve muita paciência com ele”. O velho Luiz detestava aquelas risadinhas intermináveis e não entendia o nosso fascínio. “Tá bom, mas não se irrite”, mesmo assim, ele ainda tem que aguentar até hoje a vovó Iêda assistindo a tudo de novo, aos mesmos episódios, agora com as netinhas Rosanna e Isabela, de 10 e 5 anos, filhas da Dani. São gerações e mais gerações, não só na minha família, que passam um tempinho em frente à TV e, às vezes, até acreditam que “teria sido melhor ir ver o filme do Pelé”. Mas,  com “todos os movimentos friamente calculados”, Chaves e Chapolin sempre nos mostraram que é possível se divertir sem palavrões, sem nudez, sem apelações, sem insensatez.


Ele só queria brincar com a bola do Quico, não ser passado pra trás pela Chiquinha, entrar na casa da Bruxa do 71 para ver o cachorrinho Satanás, ou na do Seu Madruga para assistir ao concurso de miss na TV; ele não queria acertar o Seu Barriga na entrada ou na saída, só um beijinho da Paty resolveria; o menino Chaves era um poeta: “Volta o cão arrependido, com suas orelhas tão fartas, com seu osso roído e com o rabo entre as patas”. Seus episódios nos educavam: “A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”; davam aulas de bons modos: “Que bonita a sua roupa, não vale nem um trocado, mas agrada a quem olhar”; discutia a amizade: “As pessoas boas devem amar seus inimigos”; e os valores: “Se você é jovem ainda, amanhã velho será. Ao menos que o coração sustente a juventude que nunca morrerá”; e mostrava como ajudar o próximo: “Já chegou o disco voadoooor”.


Já o super-herói de roupa vermelha com suas “anteninhas de vinil detectando a presença do inimigo” sempre foi uma figura clássica. “Oh, e agora quem poderá nos defender?”. “Eu, o Chapolin Colorado!”. Estava mais pra estabanado, desastrado, atrapalhado. A gente queria dizer: “Ai que burro, dá zero pra ele”, e ele nos dizia: “Não contavam com a minha astúcia!”. Durante anos, desde a década de 80, nós tivemos “palma, palma, não priemos cânico” e também aprendemos muito com ele. Acapulco, aerolitos, astúcia, chinforímfola, fadiga, gentalha, Tangamandápio, até “churi churi funflays” eram palavras novas no nosso vocabulário. Mas nem tudo “é culpa do professor linguiça!”. Peço a vocês que “sigam-me os bons” e “se aproveitem da minha nobreza” para agradecer a esse estrondoso artista mexicano, que amava o nosso país como muitos, mas nos dava atenção como poucos, e que vai fazer uma falta danada por aqui. “Pipipipipipi”.

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