LUIZ CABRAL INÁCIO

Vida privada, interesse público

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2014 | 03:00
 
 
Ilustração Hélvio Avelar

Você está ficando velho. Isso é fato! A menina pequenininha que você viu chorando em cena de “Mulheres Apaixonadas”, em 2003, e emocionou o Brasil, cresceu, virou um mulherão e, agora, é a namorada do maior craque da seleção brasileira da atualidade. A duplinha sertaneja filha de Xororó, que conquistou os quatro cantos do país na década de 90, cresceu sob os holofotes da música, se separou, sendo que, agora, uma teve seu primeiro filho, e o outro anunciou na semana passada que vai se casar com uma modelo. E a filha do Zezé? Desde pequena comparada com a filha do outro sertanejo ali atrás, ela foi comendo pelas beiradas, continua com seus shows até hoje e, também na semana passada, deu à luz seu segundo filho. Esses são só alguns exemplos que mostram que, nos últimos 30 anos, você bem que cuidou da vida da Bruna Marquezine, da Sandy, do Júnior e da Wanessa, assim como de muitos outros famosos, e pode até ter se esquecido de cuidar da sua. E falo assim sem ser agressivo. Eu me incluo nessa lista, bem como bilhões de seres humanos que esquecem que todos necessitam de privacidade para amar, sorrir, viver...


Acho que é justamente por isso que não vamos muito com a cara daquele artista que fala que não gosta de expor sua vida ou seu relacionamento. Luana Piovani, Carolina Dieckmann, Ana Paula Arósio são assim, não ganham muito a nossa simpatia, mas não deixam de ter razão por agir dessa maneira. Um exemplo que destrincha e explica essa atitude: recluso e discreto, o ator Dudu Azevedo namora há cinco anos e diz que a exposição deve incomodar sua mulher, já que a profissão dele nunca foi uma opção dela. Sábias palavras dele: “Não uso minha vida pessoal para me projetar, para fins comerciais. Isso tem um bônus, mas é oneroso, um caminho sem volta”.


Sem volta mesmo! Lembra-se da perfeita “família margarina” Cauã Reymond e Grazi Massafera? Por mais que tentassem evitar, tinham a vida exposta na mídia, e deu no que deu: terminaram um casamento dos sonhos por causa de uma suposta traição com outra queridinha, a atriz Isis Valverde. Nós nem sabemos se a traição realmente aconteceu, mas tomamos partido da traída, discutimos o assunto como se eles fossem da nossa família, custamos para esquecer um fato que não tem nada a ver com a gente.


Culpa da exposição, que rima com ambição. Se eles não tivessem sido tão ambiciosos, talvez pudessem ter evitado uma vida inteira exposta, aberta ao público, digerida e expelida pela sociedade. É justamente esse contato com o mundo exterior que a cantora Maria Rita tenta evitar. A filha de Elis Regina, que sempre foi muito restrita, questionou recentemente, ao jornal “Folha de S.Paulo”, umas biografias não autorizadas da mãe. “Acho que o político deve explicações à sociedade, o artista não necessariamente. O artista tem direito à sua privacidade. Muito se falou em direito de liberdade de expressão, pouco se falou no direito à privacidade”, observou.


Tudo tem um limite. Para a cantora, o fato de ela ter uma carreira pública não implica que o que ela faz na vida privada seja de domínio público. Engajada, sincera, realista e educada ao mostrar o que pensa. Se fosse a Xuxa, ficaria muda, faria cara de santa e chamaria o segurança; se fosse a Susana Vieira, seria estúpida, gritaria e armaria aquele barraco; se fosse a Gretchen, tudo bem, tem umas que sempre quiseram só aparecer.