Luiz Tito

Luiz Tito escreve de segunda a sábado em O TEMPO

Somos filhos do acaso

Publicado em: Ter, 12/11/19 - 03h00

Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, San Tiago Dantas, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Antônio Carlos Magalhães, Carlos Lacerda, Barbosa Lima Sobrinho são alguns nomes que marcaram a história brasileira, e todos, já falecidos, teriam hoje mais de 100 anos.

Fernando Henrique Cardoso, Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Davi Alcolumbre, Rodrigo Maia, Aécio Neves, Fernando Collor. Destes, quase todos já ocuparam a Presidência da República ou tentaram o posto, como candidatos; todos estão vivos, mas com exceções (FHC, Bolsonaro, Alcolumbre, Rodrigo Maia e Ciro Gomes), foram presos ou são severamente investigados, respondendo a inquéritos ou processos por corrupção ativa ou passiva, organização criminosa etc, etc.

A quase nenhum dos citados, por desconfiança gerada em uma eventual gestão, mandato ou governo seu, os brasileiros entregariam o país para presidir. Jair Bolsonaro “está presidente”, eleito pelo antipetismo por ter disputado uma eleição contra um candidato sem bandeira, sem projetos, derrotado na tentativa de reeleição a prefeito de São Paulo e marcado por integrar um partido enlameado por toda sorte de crimes e desmandos praticados contra o patrimônio público. Seu maior líder, Lula, acaba de sair provisoriamente da cadeia, onde esteve 580 dias, cumprindo sentença condenatória de segunda instância. Saneados os vícios do processo que determinou sua prisão e, de acordo com o que estabelece a Constituição Federal, quando for julgado pelo STJ e, se assim couber, pelo STF, o maior líder do PT poderá voltar à prisão.

Na ditadura militar, coincidentemente, surgiram partidos com programas, emergiram grandes nomes com acentuado grau de responsabilidade e compromissos coletivos, economistas com suas teses de macroeconomia, destacados cientistas políticos; e, ainda, a crítica foi revigorada, o jornalismo, a referência de uma época, as artes, a música, a literatura que atravessou nossas fronteiras. Desde então o Brasil não produziu lideranças consistentes, confiáveis e duradouras. Convivemos hoje – e nisso se inclui o atual presidente Jair Bolsonaro, cuja popularidade está notadamente em baixa – com figuras de relevância pontual, sustentadas por medidas e ideias de varejo, sem qualquer razão que empolgue a nação.

A direita bolsonarista vive de conseguir transformar em notícia nacional o que pensa meia dúzia de puxa-sacos ou o que vomitam Olavo de Carvalho e os filhos do presidente. A esquerda, no mesmo diapasão ou pior, fez plantão na porta da PF de Curitiba por quase dois anos para de lá retirar seu líder Lula e com ele tentar reabrir o debate nacional. Debate de quê? Qual é o novo projeto?

Não temos, independentemente de lado ou ideologia, um projeto para o Brasil. Resta-nos, pobremente, ir tocando como estamos, porque na vizinhança as coisas estão ainda piores. A nossa opção de momento é pelo que for menos pior. Que vazio, que miséria!

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