Marcio Coimbra

Márcio Coimbra escreve todas as quartas-feira em O TEMPO

Incrível Huck

Publicado em: Seg, 12/02/18 - 02h00

A falta de novas lideranças formadas dentro da política tem impulsionado a chegada de novos nomes ao cenário nacional. Bastou o francês Guillaume Liegey aportar no Brasil para que os holofotes mais uma vez se voltassem para Luciano Huck. Liegey, que trabalhou na campanha presidencial francesa, disse que o apresentador tem um perfil muito interessante e que o Brasil está pronto para produzir a sua própria versão de Emmanuel Macron.

Em ato contínuo, cortejado por um grande número de partidos, Huck, que já declarou que não seria candidato, passou a conversar com Fernando Henrique Cardoso. “Ele tem estilo de peessedebista”, disse o ex-presidente, para arrematar com “sua candidatura seria positiva porque precisa arejar, botar em perigo a política tradicional, mesmo que seja do meu partido”.

Tudo indica que existe um movimento para tornar Luciano Huck uma espécie de Macron dos trópicos. As semelhanças, entretanto, param por aí. O presidente francês, erroneamente classificado como outsider, sempre foi um animal político. Filiado ao Partido Socialista desde os 24 anos, antes de vender-se como outsider foi Secretário Geral Adjunto da Presidência da República Francesa e Ministro da Economia. Candidato informal do presidente Hollande, acabou sendo eleito quando se moveu para o centro e montou um partido com forma de movimento.

Diria Garrincha que Fernando Henrique precisa primeiro combinar com os russos. O PSDB está diante de prévias onde o presidente do partido, Geraldo Alckmin, surge como favorito incontestável. Enquanto FHC faz a política dos holofotes, o governador de São Paulo faz a política dos bastidores, costurando alianças e acordos dentro do mundo político real. Mais do que consolidada dentro do partido, a candidatura de Alckmin já trabalha no fechamento de alianças, apoios e palanques estaduais que possam encaminhar sua vitória nas eleições gerais.

Se Luciano Huck se candidatar, a tendência é que não seja pelo PSDB. Depois de enquadrar politicamente João Doria, que tentará o governo paulista, Alckmin não terá complicações em impor-se, sempre de forma suave e efetiva, diante dos movimentos de FHC. Assim, se Huck decidir encarar uma candidatura, não será com o apoio dos tucanos.

O marqueteiro de Macron está certo quando fala que o Brasil está pronto para o surgimento de um novo nome, entretanto, este movimento ao centro não precisa ser necessariamente realizado por um outsider. O próprio presidente francês soube vender-se com a roupagem do novo centro mesmo tendo sempre orbitado nas esferas de poder.

O eleitorado não busca um incrível Hulk, mas um gestor eficiente que saiba dar encaminhamento político para as questões nacionais, arrume a economia e seja hábil para aprovar reformas no parlamento. O momento é de prudência, sem espaço para arriscados experimentos políticos.

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