Marcio Coimbra

Márcio Coimbra escreve todas as quartas-feira em O TEMPO

Manifestações

Limites da democracia

Publicado em: Qua, 08/09/21 - 05h00

Esse feriado serviu para Bolsonaro dobrar a aposta. Como sempre faz, polariza, intimida e incendeia. Este é seu método de fazer política. Ele se alimenta do confronto, e a oportunidade criada pelas manifestações nesse feriado fornece a exata dimensão de sua estratégia. Preparadas durante praticamente dois meses com intensa mobilização, tinham o objetivo de mostrar musculatura popular. Seu movimento testa os limites de nossa democracia.

Bolsonaro já não governa. Quem dita os caminhos do governo, nomeia e decide é Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados. O presidente entregou-lhe o governo em troca de terminar o mandato, sem risco de impeachment. Ao terceirizar o poder, seu foco se voltou para a reeleição. Bolsonaro pensa, respira e se alimenta de seu projeto de manutenção na Presidência. As manifestações desse feriado têm este condão.

O impeachment somente volta para a pauta nacional quando Bolsonaro testa os limites das instituições. Os atores políticos evitam o assunto. A oposição petista não deseja afastá-lo, pois prefere um duelo entre Lula e Bolsonaro em 2022. O centrão sabe que um Bolsonaro fraco é um centrão forte. Assim, é melhor deixar o presidente enfraquecido e controlar o governo até o seu final. Entretanto, talvez tenha chegado o momento de discutir mecanismos de defesa institucional de nossa República.

Sem reação institucional ordenada, Bolsonaro seguirá testando os limites da nossa democracia. As manifestações desse feriado têm esse objetivo, pois, ao transitar nesse limbo punitivo até as eleições, o presidente consegue dar corpo ao seu movimento populista, que visa criar uma conexão direta com uma parcela da população ao flertar com a quebra das balizas institucionais da República.

A classe política e as instituições precisam entender se este é um risco capaz de ser suportado pelo país. Se de um lado Bolsonaro flerta com o perigo de subverter a democracia, do outro, ao esperar as eleições e rejeitar aplicar os devidos remédios constitucionais, as instituições colocam o país em risco. O preço a ser pago pela espera pode ser muito maior do que as cicatrizes de um afastamento presidencial pelas vias constitucionais e legítimas.

Bolsonaro mostrou nesse feriado que está disposto a dobrar a aposta e que não tem qualquer apreço pela democracia ou pela Constituição. Ao contrário, prefere deturpar esses conceitos para justificar sua permanência no poder. O país pode pagar muito caro pelos retrocessos que podemos enfrentar diante de seus arroubos populistas.

Cabe, neste momento, àqueles que representam as instituições da República fazer valer os mecanismos de controle institucional para evitar que o Brasil mergulhe em uma aventura autocrática. Ao testar os limites de nossa democracia, Bolsonaro deveria encarar as consequências de desafiar, intimidar e polarizar com nossas instituições e a sociedade. Os remédios constitucionais são amargos, porém necessários. Nossa democracia é inegociável, e seus pilares devem ser preservados.

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