Marcio Coimbra

Márcio Coimbra escreve todas as quartas-feira em O TEMPO

Procura-se um líder

Publicado em: Seg, 30/03/20 - 03h00

Líderes populistas podem se tornar as principais vítimas da pandemia que o mundo enfrenta atualmente. Como na política é possível morrer diversas vezes, talvez esses líderes possam colocar as barbas de molho. Avessos ao entendimento e diálogo, reféns do isolacionismo obscuro e do contato direto das massas, é possível que estejam mais uma vez encontrando o ocaso de sua história. Ao preferir o personalismo ao consenso, se afastam do caminho sadio que passa pelo diálogo especialmente em momentos de crise.

Em sistemas democráticos, certamente a harmonia necessária para encontrar soluções conjuntas e eficazes passa pelo diálogo institucional entre poderes e governos de diferentes níveis. Infelizmente, no caso da pandemia atual, vemos ações dissonantes e independentes em diversas frentes, o que pode somente agravar a situação atual.

A coordenação destas ações deve passar pela política, diálogo e consenso entre os atores, sempre baseados na ciência e ações preventivas, especialmente quando o assunto é algo tão sensível quanto a saúde da população. Não há espaço, neste momento, para disputas políticas e desvios de narrativa. O país precisa de ações efetivas sob o comando de uma liderança segura e firme.

São em momentos como este que nossos líderes passam pelo seu mais importante teste. Churchill cresceu quando o país mais precisava de sua liderança. Soube unir a nação, pacificar a política e resgatar o orgulho de seu povo durante uma situação extremamente adversa. São momentos assim que separam os homens dos meninos, os bufões dos verdadeiros políticos e os populistas dos líderes.

A pasta da Saúde, até o presente momento, tem ocupado este vácuo de liderança ao lado de governadores que instituíram gabinetes de crise para lidar com a emergência causada pela pandemia. Ao dialogar e buscar ações conjuntas e harmônicas conseguem atingir o objetivo de trazer maior certeza para uma população que ainda permanece preocupada.

De nada adianta trabalhar a desinformação e tentar guiar a narrativa dos fatos para outro caminho. A realidade precisa se sobrepor a insensatez. Organizar carreatas e campanhas publicitárias passa ao largo do papel de um governo que deveria se impor pela responsabilidade e prudência diante de uma crise de tamanha magnitude. Ao incentivar o desalinhamento, cria-se confusão, incerteza e insegurança, papel antagônico de um líder em uma situação de crise.

Liderar não é uma tarefa fácil. Esta crise fornece uma ampla oportunidade, talvez preciosa, que significa expor líderes fracos que se baseiam em um populismo raso com traços de autocracia. Ao negar os fatos e celebrar a insipiência, os populistas tendem a ser atropelados pela realidade, abrindo espaço para lideranças democráticas que transitam pela experiência, diálogo e consenso. Nosso país precisa de alguém capaz de dialogar, inspirar e liderar a nação.

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