Ameaça

Risco institucional

A palavra 'golpe', depois de muito tempo, passou a fazer parte das conversas políticas em Brasília. Existe um clima de tensão no ar, entretanto é preciso avaliar até que ponto corremos o risco de sofrer um movimento que poderia colocar a nossa democracia em xeque.

Por Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2021 | 20:44
 
 

As ameaças de Bolsonaro envolvendo militares e as eleições de 2022 soaram como um alerta para todo país. A palavra “golpe”, depois de muito tempo, passou a fazer parte das conversas políticas em Brasília. Existe um clima de tensão no ar, entretanto é preciso avaliar até que ponto corremos o risco de sofrer um movimento que poderia colocar a nossa democracia em xeque.

Bolsonaro chegou ao poder na troca de ciclo político, quando o eleitorado buscava um nome que encarnasse a figura do outsider, alguém de fora do sistema, e representasse o que se convencionou chamar de “nova política”. Sua eleição era previsível. O desfecho de sua Presidência, entretanto, ainda não está claro, uma vez que geralmente aqueles que são eleitos em troca de ciclo têm problemas na conclusão de seu mandato presidencial, como Collor e Jânio.

Por certo, Bolsonaro possui tendência autoritária, e esta característica apenas ajuda a história a se repetir. O tensionamento institucional provocado por ele e seus apoiadores tem apenas um objetivo: tumultuar o processo eleitoral de 2022 com a possibilidade de questionar o resultado das urnas, processo similar àquele tentado por Trump nos Estados Unidos. Bolsonaro sabe que, diante dos escândalos de corrupção, da conduta desastrosa diante da pandemia e de uma condução errática da economia, suas chances de reeleição são pífias. Sobe o tom na medida em que se sente acuado.

Diante dos arroubos autoritários presidenciais, que arrastaram os militares para o flerte com a instabilidade institucional, caberia uma resposta dura dos outros Poderes, até pelo fato de a crise ter atingido diretamente o Senado. Na falta de uma posição firme, políticos e magistrados se mobilizaram para colocar limites na postura de Bolsonaro.

Contudo, até que ponto o Brasil corre o risco de sofrer um golpe? Bolsonaro sofre com alta rejeição, é impopular, e segundo as pesquisas da última semana, considerado falso, desonesto, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e pouco inteligente. Sem credibilidade, o Presidente não tem liderança. Sem liderança, não governa. Vamos aos fatos: não há chance de golpe mesmo que os militares usem suas armas. Para tentar um golpe, o líder autocrático precisa ao menos ser popular.

Para além disso, golpe militar é algo démodé, ultrapassado, superado em democracias como a brasileira. Um país do tamanho do Brasil não acolheria um golpe que nem sequer teria apoio internacional e, mais do que isso, certamente seria alvo de repúdio, bloqueios e embargos de países como Estados Unidos, Canadá e Argentina e blocos como a União Europeia. Não estamos em 1960 e não se atenta contra a democracia impunemente em um país com imprensa livre e amplo uso de redes sociais.

Certamente existe um risco institucional e um governante simpático a um modelo autocrático. Bolsonaro pode até tentar, mas certamente não existe ambiente externo e interno para uma quartelada no Planalto. O Brasil possui instituições, empresariado e solidez democrática para evitar o golpe, mesmo que o presidente flerte de forma irresponsável com a ruptura.